O Governo decretou um dia de luto nacional para segunda-feira pela morte do fadista Carlos do Carmo, esta sexta-feira, aos 81 anos.
“É com extrema consternação e profundo pesar que o Governo tomou conhecimento do falecimento de Carlos do Carmo e decidiu decretar um Dia de Luto Nacional a concretizar-se na próxima segunda-feira, 4 de janeiro de 2021″, refere uma nota do gabinete do primeiro-ministro.
O Governo propôs ainda ao Presidente da República a atribuição da Ordem da Liberdade, a título póstumo, “pelo determinante papel que Carlos do Carmo teve na renovação do fado, atribuição que, de resto, já estava prevista”.
“Fazendo eco das palavras que cantou no ‘Fado da Saudade’: ‘Mas com um nó de saudade, na garganta/ Escuto um fado que se entoa, à despedida’ de um grande amigo”, escreveu o primeiro-ministro, António Costa, no Twitter.
O chefe do Executivo sublinhou que Carlos do Carmo “não era só um notável fadista, que o público, a crítica e um Grammy consagraram. Um dos seus maiores contributos para a cultura portuguesa foi a forma como militantemente renovou o fado e o preparou para o futuro”, evocou.
Em declarações à RTP, o Presidente da República disse ter recebido esta notícia com uma reação idêntica “à de todos os portugueses”, “uma reação de perda”.
“Perda por aquilo que Carlos do Carmo fez pela consagração do fado como património imaterial da Humanidade, mas também pelo que deu como voz de Portugal cá dentro e lá fora junto das comunidades portuguesas, prestigiando não apenas o fado, mas a nossa cultura”, destacou Marcelo Rebelo de Sousa.
“Por detrás de uma grande figura da cultura estava um grande homem, com uma grande riqueza pessoal, uma sensibilidade e uma intuição e identificação com o povo português que o povo português não esquece”, acrescentou.
As cerimónias fúnebres do fadista realizam-se no mesmo dia, na Basílica da Estrela, em Lisboa, disse à agência Lusa um dos seus filhos.
O velório tem início às 09h00 de segunda-feira, na Basílica, sendo rezada missa de corpo presente pelas 14h00. Segue-se o funeral para um cemitério da capital ainda a designar, segundo a família do cantor.
Reações à morte do fadista
A cantora Simone de Oliveira realçou a carreira internacional do fadista, e a dimensão que atingiu, da qual “os portugueses não têm noção”, como afirmou à agência Lusa.
“Do Carlos fica a sua maneira de interpretar, a voz única, os poetas que trouxe, e era um homem um bocado libertário”, afirmou, referindo-se ainda ao fadista e amigo, como “um homem interessante e inteligente” e “absolutamente um homem do espetáculo, do showbiz“.
A também fadista Mariza recordou Carlos do Carmo como “um bom amigo, homem generoso, inteligente, observador, muito curioso, e que gostava de partilhar”.
A fadista recordou o apoio à sua carreira, afirmando que tinha sido seu “mestre sem o saber”, logo no início do seu percurso. “Ele chamava-me para junto do seu abraço.”
Em declarações à RTP, o músico Camané diz que “foi um choque muito grande”. “Conheço o Carlos do Carmo desde sempre, somos muito amigos. É difícil de lidar, é uma grande referência do fado e continua a ser. Vai ser sempre uma das pessoas mais importantes do fado. Foi uma pessoa que acreditou em mim”, afirmou.
“Sempre achei que, ao mesmo tempo que é ‘fadista de gema’, ele é mais do que isso, é um cantor. Não é um fadista característico, como o [Alfredo] Marceneiro, é alguém com outro tipo de formação e que renovou dentro do fado e tem um papel absolutamente fulcral”, afirmou, por sua vez, o músico Sérgio Godinho.
O cantor e compositor Fernando Tordo também lamentou a morte de Carlos do Carmo, considerando que desapareceu “o mais jovem de todos os fadistas”, com quem manteve 50 anos de amizade.
“Com este infeliz acontecimento desaparece o grande responsável pela transformação, pela modificação da autoria e da composição para fado”, disse Fernando Tordo.
Rui Vieira Nery, autor de “Para uma História do Fado”, afirmou que “quase todos os momentos de renovação do fado, nos últimos 50 anos, tiveram alguma ligação com Carlos do Carmo”.
Vieira Nery referiu “os grandes poetas e compositores de outras áreas que Carlos do Carmo trouxe para o fado” e “as pontes que estabeleceu entre o fado e outros géneros musicais”.
ZAP // Lusa