O líder parlamentar dos comunistas, João Oliveira, indiciou que a “arrumação” da direita, com o aparecimento do Chega e da Iniciativa Liberal (IL), pesou na definição da estratégia política do PCP, embora não “condicione” o partido.
Na Comissão Política, o podcast semanal do Expresso, João Oliveira referiu que é preciso “evitar” uma situação de tal “descontentamento” social e político que “alimente” um novo bloco à direita, com o Orçamento do Estado (OE) a servir para isso mesmo.
“Nós estamos a correr o risco de que haja uma situação em que alguém esteja a brincar com o fogo”, disse, dias após António Costa ter acusado os partidos de “brincar com o fogo” ao aprovarem a proposta do Bloco de Esquerda (BE) sobre o Novo Banco.
Para João Oliveira, “brincadeira” é “a falta de resposta aos problemas e o avolumar de descontentamentos que podem ser muito facilmente instrumentalizados por projetos antidemocráticos”. A abstenção no OE serve para “dar margem ao Governo para evitar um agravamento da situação” e um “caldo económico e social”.
À IL, reconheceu “a coerência, a seriedade e honestidade intelectual de ser verdadeiro representante do capital em tudo o que isso significa”, enquanto no Chega vê “elementos de troca-tintismo” e respostas sem coerência, que “enganam magistralmente” os eleitores. Estes servem “para uma escapatória do descontentamento do PSD e do CDS”, para que estes partidos “possam alimentar a esperança de voltar ao poder”.
Uma alternativa de direita para governar o país, continuou, não será a “primeira e principal preocupação do PCP”, mas “não deixa de ser elemento político que tem de estar presente” na definição da estratégia dos comunistas. Disse ainda que o PSD poderá estar a “avaliar mal” os dois partidos ao vê-los como “instrumentos táticos” para chegar ao poder.
João Oliveira garantiu que os resultados das próximas eleições presidenciais não mudarão a estratégia do PCP. “Muito mais relevante do que as eleições são elementos que podem alterar condições sociais e políticas”, frisou.
Questionado sobre a disponibilidade do PCP para continuar a negociar com os socialistas, lembrou que para o partido a “alternativa” é um “Governo patrótico e de esquerda que não é o do PS”.
Sobre se o PCP pode ser visto como um partido que está a perder a matriz revolucionária, respondeu que “um partido revolucionário tem de saber a linha de intervenção que tem de ter nas diferentes circunstâncias em que está”, mantendo a consciência de que “não basta ficar à espera e estar bem preparado para que ele [o socialismo] um dia caia do céu”.