Umas das duas empresas apontadas como eventuais responsáveis pelo surto de legionella que vitimou nove pessoas, a Ramirez, anunciou esta quinta-feira em Matosinhos que o teste realizado à torre de arrefecimento da empresa deu negativo.
Na terça-feira, como medida cautelar, a Autoridade de Saúde da ULS de Matosinhos procedeu à suspensão do funcionamento das torres de refrigeração de duas empresas no concelho de Matosinhos, a Ramirez e a LongaVida.
Em conferência de imprensa, a diretora de controlo de qualidade da Ramirez, Fátima Barata, anunciou o resultado da análise na sequência da visita do delegado de saúde.
“Esta tarde a [Administração Regional de Saúde] ARS Norte contactou-nos para comunicar e confirmar o que já sabíamos: as análises realizadas à nossa torre de arrefecimento deram resultado negativo“, comunicou a responsável.
Enfatizando que a empresa “cumpre escrupulosamente” as suas obrigações, com duplo controlo, a responsável deu também conta de “duas análises, em dois laboratórios, acreditados e independentes, a MicroChen e a Biogerm (…) ambos com resultados negativos, atestando a ausência de legionela pneumophila na instalação” da Ramirez, feitas “após a visita do delegado de saúde de Matosinhos” e “sem prévia intervenção na torre de arrefecimento”.
Neste contexto, continuou Fátima Barata, os resultados obtidos “ilibam a Ramirez de qualquer relação ao surto de legionela” que afeta os concelhos de Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim.
“Nunca foi detetada legionella em nenhuma das nossas torres”, insistiu a diretora da Ramirez, especificando que, em termos técnicos, a pesquisa da bactéria “obriga a um crescimento de 10 dias para se ter a certeza da sua existência”.
E prosseguiu: “Existe outro teste, que pode ser indicativo, de conteúdo genético, para verificar se existem partículas mortas ou vivas. De facto, no dia 9 [de novembro], quando cá esteve o delegado de saúde, fez-se um teste e esse indicador deu positivo, daí ter sido suspensa a torre“.
A conserveira Ramirez, assegurou Fátima Barata, faz “controlo duplo, porque tem um plano de controlo da legionella e de outro tipo de água que acontece de dois em dois meses, e a última análise foi em agosto”.
Há 17 pessoas internadas
O número de pessoas internadas devido ao surto de legionella na região do Grande Porto diminuiu para 17, com a recuperação de três doentes que tiveram alta esta quinta-feira, confirmou fonte da Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-Norte).
Desses três doentes recuperados, dois verificaram-se no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, onde continuam internadas 10 pessoas, tendo a outra alta sido registada no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde, que ainda presta assistência quatro pacientes. No Hospital S. João, no Porto, mantêm-se três pessoas internadas.
O número de casos de legionella diagnosticados desde o início de surto, a 29 outubro, não sofreu alterações, mantendo-se nos 85, registando-se as mesmas nove mortes devido a complicações associadas à doença.
A empresa de produtos lácteos Longa Vida, em Matosinhos, confirmou, na quarta-feira, que foi uma das empresas a ter desligado as suas torres de refrigeração “a título preventivo”.
Matosinhos pede explicações à ARS-Norte
A presidente da Câmara Municipal de Matosinhos pediu esclarecimentos à Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte e às duas empresas do concelho “suspeitas” pelo surto de legionella no Grande Porto que já causou nove mortes.
Em comunicado, Luísa Salgueiro disse que, apesar de aguardar a confirmação oficial sobre a fonte de contágio que chegará com o resultado das análises às bactérias encontradas naquelas estruturas, entende ser tempo de sossegar as populações que habitam nas freguesias onde se encontram instaladas essas.
“É muito penalizador, principalmente num momento de pandemia como aquele em que vivemos, as pessoas estarem perante esta incerteza”, sublinhou.
A autarca solicitou à ARS-Norte que informe as populações sobre os cuidados a ter durante este período. Quer ainda que esta entidade revele quais as medidas preventivas que foram tomadas e de que forma estas mitigam o risco de infeção e do aparecimento de novos casos.
Já quanto às empresas “suspeitas”, Luísa Salgueiro contou ter requerido às mesmas os últimos relatórios de manutenção dos equipamentos, assim como informação sobre a utilização intensiva dos equipamentos e o seu horário recente.
Na semana passada, o Ministério Público (MP) anunciou a abertura de um inquérito para investigar as causas do surto.
A doença do legionário, provocada pela bactéria Legionella pneumophila, contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.