Mortes por legionella sobem para oito. Pandemia pode ter potenciado surto

(dr) Legionella Control International

O surto de legionella em Matosinhos, Póvoa de Varzim e Vila do Conde, no distrito do Porto, causou, esta sexta-feira, mais uma morte, elevando para oito o número total de óbitos devido à doença.

Fontes hospitalares revelaram à agência Lusa que, para além das oito vítimas mortais, o número de casos diagnosticados também aumentou para 76, mais quatro em relação a quinta-feira. Duas pessoas estão a receber cuidados no Hospital São João e outras duas no Hospital Pedro Hispano, onde se registou o último óbito.

A unidade matosinhense é a que mais casos de doentes com legionella tem recebido, num total de 43, sendo que seis morreram e 15 mantêm-se internados, 12 em enfermaria, dois em cuidados intermédios e um na unidade de cuidados intensivos.

No Hospital São João, já foram assistidas oito pessoas com a doença, sendo que sete continuam internadas, das quais quatro em enfermaria, uma em cuidados intermédios e duas na unidade de cuidados intensivos.

No Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde, o número de casos assistidos mantém-se nos 25 pelo terceiro dia consecutivo, continuando internadas 16 pessoas.

Ainda assim, a unidade poveira anunciou, esta sexta-feira, que converteu sete consultórios da consulta externa numa enfermaria com 10 camas, para responder a um possível aumento de casos de legionella e também de covid-19.

No total, estas três unidades de saúde registaram, desde o início do surto, que continua com origem desconhecida, oito mortes nas 76 diagnosticadas, sendo que 38 continuam internadas.

Na quarta-feira, o Ministério Público anunciou a abertura de um inquérito para investigar as causas do surto, tendo a Câmara de Vila do Conde confirmado que os técnicos das Delegações de Saúde locais já estão no terreno a fazer análises e várias estruturas fabris e comerciais

Pandemia pode ter potenciado surto

Em declarações à rádio TSF, Acácio Rodrigues, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, afirma que a pandemia de covid-19 pode ter potenciado este surto, uma vez que muitos edifícios estiveram fechados e não foram inspecionados.

“Os possíveis focos de legionella podem ser múltiplos, as autoridades não podem excluir mesmo aquelas fontes menos prováveis. Há múltiplas justificações, sobretudo nos equipamentos industriais, sobretudo as torres de arrefecimento em grandes empresas, porque estão equipamentos envelhecidos, se não forem alvo das manutenções adequadas e se estiverem parados”, declarou.

“Nem é preciso que estes equipamentos tenham estado parados, basta que não tenham sido alvo das manutenções adequadas ou com a periodicidade adequada. Com uma circunstância como a que estamos a viver da pandemia, não facilita e é compreensível a adoção dessas medidas, até porque se for preciso recorrerem a empresas terceiras para prestarem esses serviços podem até não estar disponíveis no momento”, acrescentou o docente, que estuda a legionella há várias décadas e é também investigador do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS).

“Tudo o que sejam hotéis, estabelecimentos termais, ginásios, piscinas que ficam encerrados, quando reabrirem vão ter que ter cuidados redobrados para evitar o aparecimento de surtos. Senão temos a tempestade perfeita“, alerta o investigador.

A doença do legionário, provocada pela bactéria Legionella pneumophila, contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) apela às pessoas com sintomas da doença (febre, tosse seca, dificuldades respiratórias, dores musculares e de cabeça) para ligarem para a linha SNS24.

ZAP // Lusa

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