O Ministério Público vai acusar os três inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras que estão em prisão domiciliária, indiciados pelo homicídio do ucraniano Ihor Homenyuk no aeroporto de Lisboa.
Bruno Sousa, Duarte Laja e Luís Silva estão em prisão domiciliária desde final de março, indiciados por homicídio qualificado do ucraniano Ihor Homenyuk no aeroporto de Lisboa. O Ministério Público deverá emitir, em breve, um despacho de acusação para que os três inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) sejam julgados.
A investigação da Polícia Judiciária parece conclusiva, atribuindo a culpa da morte do cidadão ucraniano aos três inspetores do SEF, escreve o jornal Público. Nenhum dos seguranças que estavam ao serviço no Centro de Instalação Temporária do Aeroporto em Lisboa, onde ocorreu o alegado homicídio, estiveram envolvidos.
A Polícia Judiciária descreve detalhadamente o percurso de Ihor Homenyuk desde que chegou a Portugal. Inicialmente, o ucraniano foi barrado por não ter visto de trabalho. A PJ salienta que o imigrante estava agitado, energético, agressivo — mas nunca violento. À meia-noite do dia 11 de março é manietado e colocado numa sala no Centro de Instalação Temporária (CIT).
Um enfermeiro dá-lhe um calmante, seguranças amarram-no com fita-cola e lençóis, nos pés e nos tornozelos. De manhã, entram no local e dirigem-se à receção os inspetores.
“Olhe, os nossos nomes não é para constarem aí, nós não estamos cá”, disse um dos inspetores, enquanto Duarte Laja empunhava um bastão metálico na mão, ao qual lhe chama ‘El douradinho’.
Dirigiram-se à sala onde estava Ihor, que se encontrava deitado, com as calças para baixo e os boxers à mostra, a cheirar a urina, descalço e com um ferimento na cara. Uma das seguranças ouve gritos de dor vindos da sala, escreve o Público, de acordo com os relatos da PJ.
O inspetor Duarte Laja é visto, por um segurança, com o pé em cima da cabeça de Ihor ou a dar-lhe pontapés. “Isto hoje, já nem preciso de ir ao ginásio”, disse um dos inspetores à saída.
Quando os seguranças entraram na sala após a saída dos inspetores, encontraram Ihor no chão a contorcer-se de dores e com marcas visíveis de ter sido espancado.
Durante a tarde desse dia, chamaram a Cruz Vermelha, cujos dois enfermeiros registam diversos hematomas na cabeça e nos braços e incontinência do esfíncter. Mais tarde chegou o INEM, com o ucraniano já a entrar em paragem cardiorrespiratória. Tentaram reanimá-lo, mas sem sucesso.
O médico legista não teve dúvidas de que se tinha tratado de um homicídio e alertou a PJ. A investigação acredita que os seguranças não tiveram consciência da gravidade das lesões externas de Ihor, nem conhecimento das lesões internas.