A filial do Banco Espírito Santo em Miami ajudou o oligarca venezuelano Alejandro Ceballos Jiménez a retirar mais de cem milhões de dólares do país.
FinCEN Files é uma investigação coordenada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), de que o Expresso é parceiro, a partir de uma fuga de informação com mais de 2.100 relatórios bancários confidenciais. O BES Miami é visado em alguns documentos, tendo ajudado oligarcas venezuelanos a extrair centenas de milhões de dólares do país.
Muito do dinheiro venezuelano que surge nos documentos teve como origem a atribuição de contratos públicos pelo Governo de Nicolás Maduro e foi canalizado para outros países através de offshores.
Ao todo, foram identificados mais de 4,8 mil milhões de dólares em transações financeiras realizadas ao longo de oito anos, entre 2009 e 2017, com origem na Venezuela a facilitadas por bancos norte-americanos. Mais de dois terços desse valor global saíram dos cofres públicos de Caracas, salienta o Expresso.
Os funcionários da filial do BES em Miami encarregues de detetar potenciais esquemas de lavagem de dinheiro, entregaram dois relatórios em que identificaram o multimilionário venezuelano Alejandro Ceballos Jiménez como estando por detrás de centenas de milhões de dólares movimentados.
Ceballos recorreu ao BES Miami para retirar da Venezuela mais de 116 milhões de dólares, pagos pelo Governo venezuelano, por serviços relacionados com projetos de construção de habitação social para famílias pobres. O ICIJ relata que os dois relatórios mencionam um total de 262,9 milhões de dólares em entradas e saídas de dinheiro ligadas a Ceballos e à sua família.
Desde a queda do BES, em 2014, que as ligações à Venezuela têm vindo a ser investigadas pelo Ministério Público (MP) português. Ceballos não consta da lista de suspeitos, com a petrolífera estatal venezuelana (PDVSA) a ser principal visada da investigação do MP.
Já em 2014, o The Wall Street Journal noticiava que procuradores em Nova Iorque estavam a investigar o possível envolvimento do BES Miami como instrumento para lavagem de dinheiro por um empresário venezuelano “que era um dos maiores clientes do banco”.
Uma conta aberta em 2012 por uma empresa registada em Londres, a Sarleaf Limited, acabou por chamar a atenção da FinCEN. A empresa tinha acionistas de fachada e donos fictícios, com Alejandro Ceballos, os seus irmãos e irmãs e a sua mãe a serem os verdadeiros beneficiários.
“Esta empresa foi criada por razões de segurança, para proteger a família Ceballos de ser exposta na Venezuela” e para “evitar o risco de vir a ser expropriada pelo governo”, justificou o banco.
Depois de a Sarleaf Limited receber o dinheiro do Governo venezuelano, os funcionários do banco repararam que houve saídas avultadas de dinheiro da conta da empresa. Ao todo, em apenas nove meses saíram 116 milhões de dólares da conta da Sarleaf.
As movimentações levantaram suspeitas já que “o padrão de pagamentos [feitos pelo estado venezuelano] e o facto de parte significativa” ter sido enviada para contas pessoais dos membros da família “parecem excessivo”.
O “dono disto tudo” e a pulhice.