Emmanuel Macron pôs o Líbano entre a espada e a parede: ou há reformas num espaço de três meses ou o Presidente francês corta os apoios ao país.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, apelou à instalação de um “governo de missão”, no “mais breve espaço de tempo possível”, quando chegou ao Líbano, na noite de segunda-feira, horas depois da designação de um primeiro-ministro libanês.
“Vi que se tinha iniciado nas últimas horas um processo que permitiu fazer emergir uma figura como primeiro-ministro. Não me pertence nem aprovar nem comentar (…), mas assegurar-me que vai mesmo ser constituído um governo de missão, o mais depressa possível, para realizar reformas”, declarou Macron, à sua chegada ao aeroporto de Beirute.
“A minha posição é sempre a mesma, a de exigência sem ingerência”, acrescentou.
De acordo com o Público, Macron avisou os políticos do país que se não fizerem reformas e mudarem de curso num prazo máximo de três meses, vão enfrentar sanções.
O objetivo da visita do Presidente francês, a segunda desde a explosão trágica a 4 de agosto, é o de tentar ajudar a tirar o país do marasmo, mas também celebrar o primeiro centenário do Grande Líbano, proclamado nas fronteiras atuais pelo general francês Henri Gouraud, a 1 de setembro de 1920.
“Vamos ter amanhã (terça-feira) a ocasião, não apenas para comemorar, mas de procurar obter todas as lições e projetar-nos para o futuro”, declarou Macron.
Em entrevista ao POLITICO, Macron reconhece que está a fazer uma “aposta arriscada” ao trabalhar para evitar um colapso político no Líbano, mas está limitado naquilo que pode alcançar. “É a última oportunidade para este sistema”, disse o Presidente francês.
Acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, e das Solidariedades e da Saúde, Olivier Véran, Emmanuel Macron foi acolhido pelo seu homólogo libanês, Michel Aoun.
Apenas algumas horas antes da chegada de Macron, foi nomeado um novo primeiro-ministro, o atual embaixador na Alemanha, Moustapha Adib, que se comprometeu com a aplicação imediata das reformas reclamadas pela comunidade internacional.
“A hora é de ação”, declarou o novo primeiro-ministro, comprometendo-se a formar em “tempo recorde” uma equipa de “peritos”, que vai realizar “rapidamente as reformas (…), como ponto de partida para um acordo com o Fundo Monetário Internacional”.
Adib foi escolhido no domingo pelos pesos pesados da comunidade sunita, de onde deve provir o chefe do governo, com a presidência a ir, segundo a Constituição para um cristão maronita e a presidência do parlamento para um muçulmano xiita. Esta escolha foi rapidamente criticada pelo movimento de contestação popular.
“Não há confiança para os que continuam a agarrar-se aos seus cargos e palácios, enquanto enterramos as nossas vítimas e curamos as nossas feridas”, segundo a opinião, expressa na rede social Twitter, de Jad Chaaban, um professor universitário, em referência à explosão no porto de Beirute, que provocou 188 mortos e mais de 6.500 feridos.
“A biografia de Moustapha Adib mostra bem que é um homem do sistema e que deve a sua nomeação aos partidos tradicionais”, comentou Nadim Houry, diretor da Iniciativa Árabe de Reforma, um centro de investigação.
Protestos contra cooperação de Macron
Uma manifestação de centenas de libaneses em Beirute contra a “cooperação” do Presidente francês com os seus dirigentes considerados “corruptos” degenerou hoje em confrontos com a polícia, com pelo menos 22 feridos, indicou uma ONG.
A concentração iniciou-se de forma pacífica antes de os manifestantes lançarem pedras em direção às forças policiais, que responderam com gás lacrimogéneo. De acordo com a Cruz Vermelha libanesa, uma organização não governamental (ONG), registaram-se 22 feridos, um deles hospitalizado.
Os manifestantes criticavam o Presidente francês, que no mesmo momento se reunia na capital libanesa com responsáveis políticos que desde há meses são contestados nas ruas pela população.
“Deveria vir escutar-nos, ajudar-nos a concretizar as nossas aspirações, e não sentar-se ao lado dos corruptos e criminosos que mataram o seu povo”, disse um dos participantes, citado pela agência noticiosa AFP.
Os manifestantes, mobilizados após um apelo de uma coligação de coletivos do movimento de contestação, ergueram bandeiras libanesas e ecoaram palavras de ordem contra uma classe dirigente “corrompida” e um “sistema confessional clientelista”, apelando à construção de um “novo Líbano” assente num Estado laico e moderno.
ZAP // Lusa