Duas demissões no Governo do Líbano foram anunciadas nas últimas horas depois da explosão no porto de Beirute que provocou pelo menos pelo menos 158 mortos, 6.000 feridos e dezenas de desaparecidos.
A ministra da Informação libanesa, Manal Abdel Samad, anunciou este domingo a demissão do cargo, num breve discurso transmitido pela televisão local, e pediu desculpas aos libaneses pelo “enorme desastre” em Beirute.
Seguiu-se depois o ministro do Ambiente, Damianos Kattar, dizendo que a decisão de sair foi tomada “à luz da enorme catástrofe”, acrescentando, segundo o Observador, que perdeu a esperança num “regime estéril que arruinou várias oportunidades”.
A explosão que, segundo o primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, aconteceu num armazém onde estavam 2.750 toneladas de nitrato de amónio armazenadas sem medidas “cautelares”, criou uma cratera com 43 metros de profundidade, segundo avaliações feitas por especialistas franceses em pirotecnia enviados para o local.
A explosão da semana passada “causou uma cratera de 43 metros de profundidade”, revelou fonte da segurança libanesa, citada pela agência noticiosa AFP.
França já ofereceu apoio logístico ao Líbano, incluindo para a investigação à explosão, e enviou forças de segurança, equipas de busca e ajuda médica. O American Institute of Geophysics (USGS), com sede na Virgínia, revelou ter registado a explosão como um terramoto 3,3 na escala Richter.
Mais difícil encontrar sobreviventes
Neste momento, diminuem as esperanças para encontrar sobreviventes no porto de Beirute, cinco dias depois das duas explosões devastadoras que atingiram a capital libanesa, anunciou este domingo o exército do Líbano.
“[Após vários dias de] operações de busca e salvamento, podemos dizer que encerramos a primeira fase, aquela que oferece a possibilidade de encontrar pessoas vivas. Continuamos a ter esperança, mas, como técnicos que trabalham no terreno, podemos dizer que a esperança de encontrar pessoas vivas está a diminuir”, indicou o coronel Roger Khouri, chefe do regimento de engenheiros militares, durante uma conferência de imprensa.
Ainda este domingo, na abertura da videoconferência internacional de doadores, o Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu “agir com rapidez e eficácia” para que a ajuda “vá muito diretamente” para a população libanesa.
O chefe de Estado também pediu às autoridades libanesas para “agirem para que o país não se afunde e para responderem às aspirações que o povo libanês exprime com legitimidade nas ruas de Beirute, neste momento. Todos juntos temos o dever de fazer tudo para que a violência e o caos não prevaleçam”.
Moçambique confirma destino da carga
A Fábrica de Explosivos de Moçambique (FEM) confirmou que encomendou as 2,7 toneladas de nitrato de amónio que estiveram na origem das explosões em Beirute, salientando que a carga apreendida pelas autoridades libanesas foi substituída por outra remessa.
A encomenda foi feita pela FEM, em 2013, à empresa Savaro, da Geórgia, e o local de descarga previsto era o porto da Beira, em Moçambique, disse à Lusa fonte oficial da firma moçambicana. No entanto, aquela carga “nunca foi entregue”, uma vez que o navio ficou retido em Beirute, por ordem das autoridades locais.
A carga ficou armazenada no porto da capital libanesa e terá estado na origem das explosões registadas na terça-feira, que devastaram bairros inteiros e causaram 158 mortos e mais de 6.000 feridos.
Até este domingo, as autoridades de Moçambique nunca confirmaram que o país era o destino do nitrato de amónio. Na quinta-feira, a empresa gestora do porto da Beira disse desconhecer essa encomenda e no dia anterior, o Ministério dos Transportes e Comunicações moçambicano referiu que desconhecia este material explosivo.
A FEM é detida pela empresa Moura, Silva & Filhos, com sede na Póvoa de Lanhoso, distrito de Braga. Segundo fonte da empresa, aquela foi uma “encomenda normal”, de uma matéria utilizada na sua atividade comercial, “cumprindo sempre de forma escrupulosa todos os requisitos legais e melhores práticas internacionais”.
A FEM “não tem qualquer relação com armadores ou transitários, dado que a sua relação com os fornecedores se cinge às encomendas que faz. Aliás, é esse o caso com todos os importadores, seja de frigoríficos, automóveis, tratores ou ar condicionados”, acrescentou a mesma fonte, sublinhando que a empresa “não tem qualquer atividade como transitário ou armador” e é “uma mera utilizadora”.
A empresa vincou ainda que “nunca paga qualquer carga antes de esta lhe ser entregue”, para deixar claro que, até à receção, não tem qualquer responsabilidade sobre a mesma. “A FEM está no mercado desde 1955 e nunca teve qualquer problema com manuseamento dos produtos que importa”, afirmou a fonte, dando conta que fornece “em segurança clientes por toda a costa oriental de África”.
Perante a retenção do navio em Beirute, a Savaro acabou por enviar uma nova carga de nitrato de amónio, através de outro navio. Entretanto, a FEM abandonou aquele fornecedor, devido ao “incumprimento” de prazos de entrega.
Cambada de irresponsáveis, é o que é.