A paciente teve ergotismo, um problema de saúde raro nos dias de hoje, mas que causou surtos misteriosos na Europa medieval.
De acordo com o site Live Science, a mulher, de 24 anos, foi ao médico depois de, subitamente, ter começado a sentir uma sensação de forte queimadura nas pernas, apesar de estas estarem frias. Os pés também apresentavam alguma descoloração e tinha dificuldade a caminhar.
Quatro dias antes, a paciente tinha começado a tomar um medicamento para as enxaquecas chamado ergotamina e, como já nasceu com VIH, tomava também vários medicamentos antivirais para tratar a doença.
Com base nos seus sintomas, os médicos suspeitaram que a mulher tivesse ergotismo, uma doença, também chamada Fogo de Santo António, tradicionalmente causada pela ingestão de produtos contaminados pelo Claviceps purpurea, um fungo comum no centeio e noutros cereais.
Na Idade Média, esta doença causou grandes surtos entre pessoas que comeram centeio contaminado, tendo desenvolvido sintomas como a tal sensação de queimadura e gangrena nos membros. Outros também tiveram convulsões e alucinações.
Segundo o mesmo site, em 1800, as sociedades começaram a ter em conta medidas de saúde pública para evitar esta doença – como a remoção dos grãos infetados da colheita (que parecem pretos) –, sendo rara desde então.
Porém, os mesmos compostos fúngicos foram, mais tarde, isolados e utilizados para fins medicinais, incluindo o tratamento para as dores de cabeça, como é o caso da ergotamina.
Hoje, a maioria dos casos de ergotismo deve-se a tratamentos com estes alcaloides, por exemplo, se as doses forem muito altas ou se o seu uso for prolongado. Mas também pode aparecer em pessoas que tomam doses normais. Isto acontece quando estão a tomar, simultaneamente, outros medicamentos, como é o caso do ritonavir para o VIH.
Os médicos trataram o problema desta mulher com um anticoagulante chamado heparina, que fez com que a dor nas pernas diminuísse e a temperatura destas voltasse a valores normais. No entanto, o tratamento não foi rápido o suficiente para evitar gangrena num dos dedos do pé, que teve de ser amputado.
O artigo científico sobre este caso, ocorrido no hospital da Faculdade de Medicina do Governo de Thiruvananthapuram, na Índia, foi publicado, no dia 22 de julho, na revista da especialidade The New England Journal of Medicine.