Discussão acesa sobre falsos recibos verdes no PAN motivou saída de Guerreiro (e o PAN Madeira acaba)

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André Kosters / Lusa

O porta-voz e cabeça de lista por Lisboa do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), André Silva.

Foi uma troca acesa de palavras entre André Silva, líder do PAN, e Francisco Guerreiro, então eurodeputado único do partido, durante uma Comissão Política Nacional realizada a 30 de Maio que motivou a desvinculação do segundo. Uma discussão que acabou com a revelação incómoda do uso de falsos recibos verdes no PAN quando o partido é contra a prática.

Essa reunião terá sido a gota de água numa relação que já estava saturada. E quando André Silva pediu esclarecimentos sobre as contas do PAN na Europa, Francisco Guerreiro respondeu com críticas por causa dos recibos verdes, pelo facto de o partido ter assessores pagos pela Câmara Municipal de Lisboa com recurso a esta prática.

Em causa estão cinco assessores do PAN, todos pagos pela Câmara Municipal de Lisboa a recibos verdes, conforme reporta o Observador.

Estes trabalhadores pagos pela autarquia faziam apenas serviços para o PAN durante a primeira legislatura do partido na Assembleia da República, como nota o Observador que apurou que “nunca puseram sequer os pés na Assembleia Municipal”.

Os assessores terão sido recrutados pelo partido através de anúncios no site Netempregos e as entrevistas de contratação foram feitas na sede do PAN em Lisboa, de acordo com a mesma publicação.

Uma fonte oficial da Câmara de Lisboa revelou ao Observador que o orçamento para contratações é distribuído conforme os resultados eleitorais dos partidos, sendo que os valores atribuídos são geridos por estes.

Publicamente, o PAN é contra o recurso a este tipo de procedimento, os chamados falsos recibos verdes.

Na reunião de 30 de Maio, muitos dos presentes “ficaram perplexos” com as revelações, de acordo com a Rádio Observador.

“A discussão nem sequer ficou gravada em áudio, nem faz parte da acta da reunião porque elementos do partido pediram que se parasse de gravar”, relata a estação, frisando que houve quem pedisse um inquérito, mas que a possibilidade foi afastada pelo tesoureiro do partido com “medo da implosão do PAN”.

PAN fica sem representação na Madeira

Francisco Guerreiro foi a primeira de uma série de demissões no PAN. A sua mulher, Sandra Marques, demitiu-se da Assembleia Municipal de Cascais e, agora, foi dissolvida a Comissão Política Regional do PAN na Madeira.

O partido fica, assim, sem qualquer representação na Madeira, depois de João Freitas, Ana Mendonça e Isabel Braz terem renunciado aos seus cargos. Em consequência, João Freitas também deixa a Comissão Política Nacional do PAN.

Os três elementos do PAN Madeira acusam a direcção que é liderada por André Silva de “excesso de autoridade”, de “estrangulamento financeiro” e de votar “contra os interesses dos madeirenses” no Parlamento nacional.

“Este não é o PAN em que acreditámos”, referem numa carta que é divulgada pelo Diário de Notícias da Madeira (DN Madeira).

Nesta missiva, João Freitas, Ana Mendonça e Isabel Braz falam de um “excesso de autoridade crescente imposto por um núcleo duro na direcção do partido, fechado sobre si próprio, que aos poucos vai assumindo o controlo total do PAN, que toma as decisões de forma unilateral, e não é minimamente tolerante com quem apresenta ideias diferentes ou que põe em causa o actual estado das coisas”.

Também criticam a queda de verbas atribuídas pelo partido à secção da Madeira, falando de uma descida para 1/4 dos valores de 2019 quando o PAN passou a ter acesso a mais dinheiro por ter aumentado a sua representação no Parlamento.

As votações do PAN na Assembleia da República são outro ponto de discórdia, salientando na carta que têm sido “quase sempre contra os interesses dos madeirenses”. A Comissão Política Regional só tem sido “informada e chamada a pronunciar-se sobre as matérias que têm a ver com as nossas ilhas no limiar dos prazos e depois de as decisões já terem sido tomadas”, criticam ainda.

ZAP //

4 Comments

  1. Excesso de autoritarismo e intolerância pela diversidade de opiniões é antidemocrático. Isso já começa a ser controlo ditaturial.
    Quem diria, André Silva também é aspirante a fascista.

    • Disse fascista. Aceito. Mas tambem podia dizer comunista. Porque fascismo e comunismo sao as duas faces da mesma moeda. Nao sou eu que o digo, são os factos (mortes causadas) da historia dessas duas aberracoes politicas.

  2. Ou seja, o que basicamente aconteceu foi que havia pessoas a usar dinheiro do partido à balda. Quando foram chamadas à pedra pelo André Silva, que pediu continhas, explodiram com crise de culpa e acusaram a direção de controlo total do PAN (lol). O Sr. eurodeputado quis virar o bico à questão pela tática do barulho falando dos recibos verdes que todos os partidos usam.. enfim, que fiquem os melhores, e que haja transparência nas contas e boa gestão dos fundos/recursos atribuídos pelo estado aos partidos.

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