O embaixador José Cutileiro morreu hoje em Bruxelas, onde vivia, disse à Lusa a sua mulher. O diplomata, de 85 anos, encontrava-se hospitalizado, acrescentou a mesma fonte.
Cronista e escritor, José Cutileiro foi um dos negociadores da adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) e integrou a equipa de coordenação da Conferência de Paz para a Jugoslávia, em 1992, entre outros cargos ao longo da sua carreira.
O diplomata, antropólogo e escritor nasceu em Évora, em 1934. A família do pai, médico, era republicana e oposicionista ao regime do Estado Novo. A família da mãe, era católica conservadora, além de apoiante do regime de Salazar.
Por força da atividade profissional do pai, Cutileiro passa parte da sua adolescência em países tão distintos como a Suíça, a Índia e o Paquistão. De volta a Lisboa, Cutileiro termina estudos secundários no Colégio Valsassina, passando em seguida pelos cursos de Arquitetura e de Medicina, na Escola Superior de Belas-Artes e na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Abandonando os estudos em Portugal, decidiu viajar para o Reino Unido, onde viria a licenciar-se em Antropologia Social, na Universidade de Oxford. Em 1968, completou o doutoramento na mesma disciplina. Ingressou depois no St. Antony’s College, como fellow, na London School of Economics and Political Science, como lecturer.
Cutileiro foi conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Londres entre 1974 até 1977, embaixador e representante de Portugal junto do Conselho da Europa, cargo que desempenhou até 1980. Passou pela Embaixada de Portugal em Maputo e foi representante permanente de Portugal junto da Conferência de Desarmamento na Europa, realizada em Estocolmo, a 14 de Janeiro de 1984.
Em 1987, durante o governo de Cavaco Silva, José Cutileiro foi chamado a Lisboa para assumir o cargo de diretor-geral dos Negócios Político-Económicos. Nessa altura, negociou a adesão de Portugal à União da Europa Ocidental e chefiou a delegação que negociou com os Estados Unidos da América os termos da utilização da Base das Lajes, nos Açores
Foi depois nomeado embaixador de Portugal em Pretória em 1989, e conselheiro especial do Ministério dos Negócios Estrangeiros para a Presidência Portuguesa da Comunidade Europeia. Nessa qualidade, coordenou a Conferência de Paz para a Jugoslávia, em 1992. Presidia ao Instituto Diplomático desde 1994, ano em que assumiu a secretaria-geral da União da Europa Ocidental.
Além da diplomacia, Cutileiro é sobejamente conhecido como cronista, na imprensa escrita. Em 2008, Cutileiro recebeu o Grande Prémio da Crónica 2008, da Associação Portuguesa de Escritores e da Câmara Municipal de Sintra, prémio que distinguia a sua antologia “Bilhetes de Colares de A. B.Kotter”.