Cientistas encontraram restos de alimentos numa gruta, no distrito de Setúbal, que comprovam que os Neandertais também se alimentavam de espécies marinhas.
De acordo com o jornal espanhol ABC, restos encontrados por uma equipa de arqueólogos na gruta da Figueira Brava, no distrito de Setúbal, que datam de 106 mil a 86 mil anos, demonstram, pela primeira vez, que os Neandertais também viviam do mar.
Até agora, os recursos do mar como fonte de alimento só tinham sido verificados em humanos modernos em África, como o Homo sapiens.
O estudo, publicado, esta sexta-feira, na revista científica Science, relata que esta espécie humana também se alimentava regularmente de peixes, moluscos, crustáceos e até outras espécies marinhas como focas e golfinhos. Além disso, este hominídeo também caçava veados, cabras, cavalos e outras presas mais pequenas como tartarugas.
Segundo o diário espanhol, os cientistas também encontraram restos de oliveira, videira, figueira e outro tipo de árvores e plantas típicas do clima mediterrâneo queimados. Embora o mais abundante tenha sido o pinheiro-manso, cuja madeira era usada como combustível e os pinhões como alimento.
A introdução na dieta Neandertal de frutos do mar é interessante, já que estes alimentos são ricos em ómega 3 e outros ácidos graxos que promovem o desenvolvimento do tecido cerebral.
Muitos investigadores especularam que o consumo de peixe ou marisco pode ter aumentado as capacidades cognitivas das populações humanas em África, permitindo o aparecimento do pensamento abstrato e da comunicação simbólica. Isso, por sua vez, justificaria a sua suposta superioridade e “triunfo” sobre outras espécies humanas.
“O nosso estudo demonstra que essa hipótese não é nada mais do que uma história. Se o consumo de recursos marinhos foi fundamental no desenvolvimento do cérebro e da cognição, foi para toda a Humanidade, incluindo os Neandertais”, explica ao mesmo jornal João Zilhão, investigador da Instituição Catalã de Investigação e Estudos Avançados (ICREA), em Espanha, e um dos autores do estudo.
“O mais provável, no entanto, é que a importância dessa dieta tenha sido muito exagerada. Simplesmente tem sido usada como argumento para justificar a narrativa da superioridade dos Sapiens”, acrescenta.