A Escola Primária Completa 12 de outubro da cidade da Beira é uma das que tem mais alunos na capital provincial, cerca de 4.000, e foi também uma das mais destruídas pelo ciclone Idai.
Passado um ano, ainda há aulas em tendas, persistem danos como na maioria dos estabelecimentos de ensino do Centro de Moçambique afetados pela tempestade: 3.500 salas de aula foram atingidas, sobretudo ficando sem cobertura.
“Foi um estrago imenso. Ninguém esperava ver cenas daquele género”, descreve Jorge Oliveira, 46 anos, diretor pedagógico do curso noturno da escola 12 de Outubro.
Ali, um bloco de salas foi completamente arrasado, só alguns pilares ficaram de pé, assim como uma parede com os típicos quadros negros de ardósia com rabiscos a giz branco e que permanecem hoje a céu aberto.
É uma parte da escola que ainda aguarda por obras, ao passo que outras salas já foram recuperadas, mas não chegam para toda a gente.
A escola funciona com seis turnos por dia, cada qual com 13 turmas, cinco com aulas em tendas, que só deverão ser desmontadas quando os quadros de ardósia voltarem a estar entre quatro paredes.
Jorge Oliveira espera que tal aconteça ainda este ano, graças ao apoio dado ao Governo por patrocinadores privados e organizações de socorro. “Pouco a pouco estamos a reerguer” a escola, conclui.
Não muito longe dali, na Escola Primária Completa Mulheres Macombe, há salas de aula ainda sem telhado, cobertas com lonas de ajuda humanitária.
É início de tarde e depois de cantarem o hino nacional em formação, no pátio, os alunos vão entrando e ocupando os lugares. Ao lado, as Nações Unidas mostram trabalho em curso num bloco onde nasce um plano piloto de recuperação de escolas de forma resiliente – um modelo para o Governo poder aplicar a todos os estabelecimentos, assim tenha recursos para tal.
Além das escolas, o ciclone Idai danificou outras estruturas públicas, como 55 unidades sanitárias no centro do país.
Segundo dados da administração provincial, há 10% de salas de aula reabilitadas e 9% das unidades sanitárias têm garantia de financiamento para recuperação, em obras de recuperação dependentes de verbas e projetos por desbloquear.
Os doadores internacionais que prometeram 1,1 mil milhões de euros em 2019 para a fase de reconstrução (pós-ajuda humanitária) fazem depender a entrega de verbas da apresentação de projetos.
No início de fevereiro deste ano, asseguraram ao Governo moçambicano o desembolso de 173,3 milhões de euros face aos projetos apresentados. Por seu lado, as autoridades moçambicanas prometem acelerar processos, mas também pedem simplificação de procedimentos.
Em resumo, a reconstrução de casas e edifício públicos mais resistentes após o ciclone Idai vai levar tempo, disse à Lusa a coordenadora residente das Nações Unidas no país, um ano depois de o centro de Moçambique ter sido atingido.
“O conceito de reconstruir com resiliência (ou BBB, do inglês ‘build back better’) precisa de estudos, de engenharia”, ou seja, “não é algo que se possa fazer de maneira tão rápida”, nomeadamente num país com as necessidades de recursos de Moçambique, referiu Myrta Kaulard, em entrevista.
Para já, e porque a data do ciclone Idai não vai ser esquecida tão depressa pelos alunos e professores da Escola Primária Completa 12 de Outubro, prepara-se uma cerimónia de inauguração.
Para sábado, 14 de março está marcado o corta-fita das salas já recuperadas. Ao lado, a ardósia a céu aberto espera pelo resto das obras, para que se desmontem as tendas de aula.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas de dois ciclones (Idai e Kenneth) que se abateram sobre Moçambique.
O ciclone Idai atingiu o cento de Moçambique em março, provocou 603 mortos e a cidade da Beira, uma das principais do país, foi severamente afetada.
O ciclone Kenneth, que se abateu sobre o norte do país em abril, matou 45 pessoas.
// Lusa