A administração Trump está a destruir locais sagrados de povos nativos dos Estados Unidos para erguer o tão prometido muro na fronteira com o México.
De acordo com o jornal Washington Post, os trabalhos começaram no Organ Pipe Cactus National Monument, no estado do Arizona, que, para além de ser considerado um monumento nacional, é reserva da biosfera da UNESCO desde 1976.
Para além de ser um lugar único no que toca à fauna e à flora, esta área tem fortes ligações com vários grupos indígenas, como é o caso da nação Tohono Oʼodham, que vive há alguns séculos no deserto de Sonora.
Segundo o congressista democrata Raúl Grijalva, equipas começaram, esta semana, a fazer explosões controladas no Monument Hill, no qual se encontra o cemitério onde este povo nativo enterrava membros de outras tribos.
“As explosões estavam a acontecer no local onde se enterrava respeitosamente guerreiros Apaches envolvidos nas batalhas com os Oʼodham”, explicou o político num vídeo publicado no último domingo.
Antes da sua visita ao local, Grijalva já tinha enviado uma carta ao Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) a expressar “sérias preocupações” com o projeto e na qual pedia à DHS que consultasse a nação Tohono Oʼodham (algo que nunca chegou a acontecer, segundo o congressista).
Em declarações à CBS News, o democrata fez duras críticas à administração Trump, considerando que o Governo “está basicamente a passar por cima da história da tribo e da sua ancestralidade”.
Além destas preocupações, defensores do ambiente — e membros do Governo — já alertaram para a eventual destruição de outros locais na mesma região. Um relatório interno do Serviço Nacional de Parques, a que o The Post teve acesso, mostra que a construção do muro na fronteira com o México poderá destruir até 22 locais arqueológicos dentro do Organ Pipe Cactus National Monument.
Embora estas ações do Executivo pareçam ilegais, a verdade é que não o são, graças a uma lei chamada Real ID Act, promulgada em 2005, que, segundo o IFLScience, lhe permite renunciar a várias leis se estas impedirem a política de segurança nacional.
De acordo com o Washington Post, Grijalva planeia marcar uma audiência, ainda este mês, sobre o impacto da construção do muro. “É urgente, e o tempo é essencial para tentar trabalhar com os nossos amigos da Tohono Oʼodham para preservar, conservar e deixar a sua identidade intacta”, afirma.
O muro na fronteira com o México foi uma das grandes bandeiras de Donald Trump. Na semana passada, no discurso anual do Estado da União, o Presidente garantiu que, no início do próximo ano, o muro já vai ter mais de 800 quilómetros construídos.