Aquele abraço de Costa e uma farpa de Marcelo. Centeno nega o que se tornou demasiado óbvio

Clara Azevedo / Portugal.gov.pt

O primeiro-ministro António Costa e Mário Centeno, ministro das Finanças

Mário Centeno assegura que a ideia de que há “batalhas internas” no Governo “é um mito”. O ministro das Finanças nega, assim, divergências com o primeiro-ministro António Costa depois de ter sido noticiada uma discussão entre ambos em pleno Conselho Europeu. Na cerimónia dos habituais cumprimentos de Natal do Governo ao Presidente da República houve sinais que quiseram abafar a polémica, mas que acabaram por a ampliar.

Nesta terça-feira, na conferência de imprensa de apresentação aos jornalistas da proposta do Orçamento do Estado para 2020 (OE2020), Mário Centeno recusou que haja qualquer desconforto com António Costa. O Expresso reportou que os dois discutiram em pleno Conselho Europeu, no âmbito das conversações sobre o primeiro Orçamento da Zona Euro.

Aquele momento terá sido um sinal claro do crescente desconforto entre Costa e Centeno, depois de alguns especialistas terem analisado que o ministro estaria a perder influência no Governo.

Centeno procura afastar as nuvens negras, salientando que “não há nenhuma dificuldade na gestão política do Governo neste momento” e que “é um mito” que haja “batalhas internas”. “Nunca antes um Orçamento foi apresentado tão depressa. Acha que com batalhas internas isso era possível?”, atirou o ministro das Finanças na apresentação da proposta de OE2020.

António Costa já tinha dito que não há “divergências” com Centeno, embora reconhecendo o seu desagrado com a “fórmula” final do Orçamento da Zona Euro que foi negociado pelo seu ministro das Finanças enquanto presidente do Eurogrupo. E na cerimónia de apresentação das Boas Festas ao Presidente da República, que levou todos os elementos do Governo a Belém, nesta segunda-feira, Costa fez questão de dar um abraço especialmente apertado e audível a Centeno.

O gesto aconteceu já no final da cerimónia e depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter também metido a sua colherada na polémica. “Devo ser o único Presidente da República que tem a sorte de desejar ao mesmo tempo boas festas ao Governo português e ao Eurogrupo”, atirou o Presidente da República, dirigindo-se a Centeno.

Rui Rio também veio falar da divergência entre Costa e Centeno, salientando que ficou do lado do primeiro-ministro na divergência no seio do Eurogrupo porque “neste tipo de situações”, coloca “sempre Portugal em primeiro lugar”.

“No interesse de Portugal, realmente quem tem razão aqui é o primeiro-ministro“, sustentou o presidente do PSD, salientando que a proposta de Orçamento para a Zona Euro “não serve os países do Sul”.

“A exigência é uma sentinela que não pode dormir”

Na cerimónia que decorreu na Sala dos Embaixadores do Palácio de Belém, onde os elementos do Governo deram as Boas Festas ao Presidente da República, António Costa também ofereceu um cachecol da Selecção Portuguesa a Marcelo Rebelo de Sousa.

“Nós, os portugueses, quando queremos somos sempre os melhores e consigo, seremos seguramente os melhores”, frisou Costa que antecipou também que, no próximo ano, Marcelo andará em “pré-campanha” para as presidenciais de 2021.

Marcelo não quis desfazer o tabu da recandidatura, mas aproveitou para enviar recados ao Governo, alertando que “a exigência é uma sentinela que não pode dormir”.

O aviso surgiu a par de referências sobre um ano que se avizinha especialmente difícil, com Marcelo a lembrar, nomeadamente, que o Governo precisa de aprovar dois Orçamentos do Estado, além de começar a preparar a Presidência da União Europeia, de ter que preparar a cimeira da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) e de precisar de apresentar soluções concretas para o problema das alterações climáticas.

Num sinal de esperança, Marcelo referiu que espera que 2020 seja “politicamente, economicamente, financeiramente e institucionalmente estável” e “ainda melhor” do que 2019 no capítulo do cumprimento das metas.

Da parte de Costa, ficou a garantia de que o Governo vai continuar empenhado em manter uma “saudável convivência” com o Presidente da República. “Sabe com o que pode contar. O próximo ano será igual a todos os outros”, prometeu o primeiro-ministro.

SV, ZAP //

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