A água do Alqueva é pouca (e pode não chegar daqui a quatro anos)

honzasoukup / Flickr

Paisagem no Alqueva

Ainda não passaram duas décadas desde o encerramento das comportas da barragem e já se ouvem os apelos à poupança. A água do Alqueva volta a ser pouca.

Em declarações ao jornal Público, Pedro Salema, presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA), que gere o vasto manancial de 620 milhões de metros cúbicos de água da grande albufeira, apela desde já a um ato imperativo: “Temos que apertar nos gastos e contar as gotas de água”, disse, uma vez que existe a “ilusão de que temos em mãos um recurso infinito, quando não é verdade”.

“O que mostram as nossas projecções é que [a água] é suficiente, em ano médio, para atender a todos os pedidos”, incluindo os caudais que vão ser necessários para irrigar mais 48 mil hectares da 2.ª fase do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva (EFMA). “Estamos a fazer uma interpretação com base nos recursos que temos hoje e não nos que podemos vir a ter.”

Francisco Gomes da Silva, antigo secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural no primeiro governo de Passos Coelho, admitiu ao mesmo jornal que a região do Alqueva poderá estar perante “um cenário de potencial ‘insuficiência’ de água para satisfazer a procura que irá ocorrer dentro de três a quatro anos”.

A insuficiência a que se refere “não decorre da eventual escassez associada ao volume de água armazenado nas barragens e reservatórios do sistema hidráulico do EFMA”. O problema está no “volume associado ao Título de Utilização de Recursos Hídricos  para regadio e à procura projetada”, ou seja, os 48 mil hectares de novos blocos de rega que estão a ser instalados no Alentejo Central, Baixo Alentejo e Litoral Alentejano.

Gomes da Silva sugere que “deveria ponderar-se de forma cautelosa a ‘velocidade’ de implementação da 2.ª fase do EFMA” e, consequentemente, a “revisão do ritmo de crescimento da área regada nos próximos anos”.

A negociação do aumento do volume de água associado ao TURH é outra das posições defendidas pelo ex-secretário de Estado, que propõe ainda o “aumento da capacidade de armazenamento das afluências ao sistema hidráulico do EFMA”.

Porém, Salema acredita que o período de seca que estamos a viver “é apenas um ciclo a que se seguirá outro com mais afluências”. No entanto, a água é um bem limitado e finito que “obriga a preservá-la gota a gota” e o acesso ao seu uso para rega “é um direito flexível”. Salema considera que o sistema que abastece os blocos de rega “está a funcionar como é suposto funcionar e de forma exemplar”.

Num estudo recentemente apresentado pela Universidade de Aveiro está prevista uma redução de 10% nos recursos hídricos no território do litoral e de 30% no interior, dentro de 30 anos.

José Paulo Martins, investigador e membro da organização ambientalista Zero, relembrou ao Público que é necessário “prevenir o futuro” e atuar já com base em cenários de médio e longo prazo

ZAP //

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