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“Erro de execução”. Agente da polícia acusado da morte de menina de 8 anos no Rio de Janeiro

A Polícia Civil brasileira apresentou esta terça-feira uma acusação formal contra um agente da polícia militar pela morte de uma menina de 8 anos, durante uma operação policial numa favela do Rio de Janeiro, há dois meses.

A menina Ágatha Félix foi atingida, em 20 de setembro, com um tiro nas costas enquanto viajava numa carrinha, acompanhada pela mãe, no Complexo de Alemão, um conjunto de favelas na parte norte da capital fluminense.

Segundo a investigação, o polícia matou Ágatha por um “erro de execução”, já que o agente tencionava alcançar dois indivíduos que circulavam de motociclo e não teriam respeitado um bloqueio policial. “Mas o projétil saltou e atingiu Ágatha dentro do veículo”, declarou a Polícia Civil em comunicado.

A acusação foi hoje apresentada ao Ministério Público no Rio de Janeiro e, no documento, a polícia também solicitou a suspensão formal do réu de todas as suas atividades, e a proibição de manter contacto com “qualquer testemunha que não seja da polícia militar”.

Para chegarem a tal conclusão, as autoridades ouviram dezenas de testemunhas, além dos agentes que trabalharam na região na noite do incidente. Foram também realizadas diversas perícias e uma simulação da morte da menina, com o objetivo de apurar os factos daquele dia fatídico. “O resultado dessa perícia indica que, após rigorosa análise técnica, houve um erro de execução por parte do agente”, indicou a Polícia Civil.

Na ocasião, os polícias alegaram que foram atacados de várias direções e que estavam a reagir a tiros, sem admitirem que foi uma bala proveniente de uma das suas armas que atingiu a criança. No entanto, as autoridades apuraram que, no momento do crime, não havia registo de pessoas armadas, além dos próprios polícias.

“O que nós apuramos foi que na hora em que a moto passou, o polícia alegou que ele [homem da motociclo] estava armado. Mas nós provámos que não estava. O agente disparou na [direção da] motocicleta, a bala bateu no poste, desviou e desceu. Nós provámos que não estavam armados”, disse o delegado Marcus Drucke, responsável pelas investigações da Esquadra de Homicídios do Rio de Janeiro, ao portal de notícias G1.

Morte comoveu o Brasil

A morte da pequena Ágatha Félix comoveu o Brasil e desencadeou uma onda de protestos intensos contra a violência que assola as regiões periféricas do Rio de Janeiro, onde traficantes de droga, polícias e milícias travam uma guerra que se arrasta há décadas.

O caso também reavivou o debate sobre as políticas de “tolerância zero” em relação aos crimes nas favelas, defendidas pelo Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e pelo Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

Entre janeiro e agosto, 1.249 pessoas foram mortas por intervenção policial no Rio de Janeiro, de acordo com Instituto de Segurança Pública.

Uma outra menina de 5 anos morreu na terça-feira passada, vítima de uma bala perdida no bairro de Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, tornando-se na sexta criança a morrer desta forma em 2019 neste estado brasileiro.

Ketellen de Oliveira Gomes junta-se a Jenifer Silene Gomes, de 11 anos, baleada em fevereiro, Kauan Peixoto, 12 anos, morto em março, Kauã Rozário, 11 anos, atingido em maio por uma bala perdida durante um tiroteio, Kauê dos Santos, 12 anos, baleado durante uma operação policial em setembro, e Ágatha Félix, 8 anos, atingida também em setembro. Em comum, além de serem crianças, viviam todas em regiões pobres e com elevados índices de criminalidade no Rio de Janeiro.

ZAP // Lusa

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