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Situação trágica. “Veneza está a desaparecer”

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Andrea Merola / EPA

Um turista nas inundações em Veneza.

A situação em Veneza é trágica, com 85% da cidade italiana inundada depois das piores cheias dos últimos anos. Mas estas inundações são apenas um alerta para o que pode vir a seguir, já que Veneza assenta numa ilha que se está a afundar, correndo o risco de “desaparecer”.

Este aviso é feito pelo professor catedrático jubilado na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), Filipe Duarte Santos, em declarações ao Expresso.

O especialista nota que a situação de “estado de emergência” que Veneza vive resulta apenas em parte das alterações climáticas, como referiu o presidente da Câmara, Luigi Brugnaro, numa altura em que a cidade enfrenta as piores inundações desde 1966.

“O aquecimento global não é a única causa. Veneza está situada numa laguna. A ilha onde a cidade italiana se encontra está a afundar-se devido a uma subsidência, ou seja, a deslocação da superfície abaixo do nível médio do mar. Desde o início do século passado até agora, a ilha afundou-se 23 centímetros“, explica Filipe Duarte Santos no Expresso.

Contabilizando ainda mais 20 centímetros devido à subida do nível da água do mar, isso significa que estamos a falar de um total de 40 centímetros.

Nas mais recentes cheias que ainda afectam a cidade, “a água subiu 1,80 metros e como a maior parte de Veneza está a mais de um metro do mar, basta mais um metro por cima e fica inundada”, aponta ainda Filipe Duarte Santos.

“É preciso fazer algo, porque a cidade está a desaparecer“, alerta este especialista, considerando que “se ficar submersa será uma perda cultural enorme para Itália e para a Europa, do ponto de vista histórico e artístico”.

Mas “o principal problema é que o nível do mar não vai parar de subir até 2100” e “prevê-se que até ao fim do século, o nível médio do mar naquela zona do Mediterrâneo suba mais de um metro”, constata Filipe Duarte Santos, salientando que “falta pouco” para isso, “apenas 80 anos”.

O especialista refere que a situação é “muito difícil” e lembra que as obras previstas para a construção de 78 comportas metálicas para evitar que as marés inundem Veneza, se têm arrastado no tempo, com acusações de corrupção pelo meio.

A cidade está condenada se não avançar com as obras de engenharia“, nota.

Essa obra vai exigir um elevado investimento à autarquia de Veneza que está a enfrentar prejuízos elevados com as inundações. Por outro lado, as cheias estão a afectar o turismo que é a grande “galinha dos ovos de ouro” da cidade que recebe cerca de 36 milhões de turistas por ano.

ZAP //

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