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Para as criaturas marinhas, as doenças infecciosas são a sentinela da mudança

Richard Ling / Flickr

Uma recente investigação analisou as mudanças nas doenças relatadas em espécies submarinas num período de 44 anos. A conclusão não surpreende: a saúde dos oceanos está a piorar a passos largos.

A compreensão das tendências oceânicas é importante para avaliar as ameaças atuais aos sistemas marinhos, e as doenças são uma importante sentinela da mudança.

A equipa de Drew Harvell, professor na Cornell University, examinou vários relatórios de doenças infecciosas marinhas de 1970 a 2013, que transcendem as flutuações de curto prazo e as variações regionais. Os resultados da investigação foram publicados no dia 9 de outubro na Proceedings of Royal Society B.

Para corais e ouriços, os relatos de doenças infecciosas aumentaram no período de 44 anos. Nas Caraíbas, os crescentes relatos de doenças de corais correlacionaram-se com eventos de aquecimento. Já se sabia que o branqueamento de corais aumenta com o aquecimento, mas Harvell explicou que a equipa estabeleceu uma conexão de longo prazo entre o aquecimento e as doenças dos corais.

“Associamos finalmente um assassino de corais como uma doença infecciosa a ataques repetidos de aquecimento ao longo de quatro décadas de mudança”, disse. “O nosso estudo mostra que os relatórios de doenças infecciosas estão associados a anomalias de temperatura quente em corais, numa escala multi-decadal”, acrescentou, citado pelo Phys.org.

Ao longo dos 44 anos, os relatórios de doenças diminuíram em peixes e elasmobrânquios (tubarões e raias). Contudo, uma diminuição das doenças nos peixes não é necessariamente uma boa notícia, uma vez que esse valor pode ser explicado pela sobrepesca e pode ser um sinal de perturbação ecológica.

“As doenças são importantes para manter os ecossistemas marinhos saudáveis, uma vez que os parasitas desempenham um papel importante na regulação das populações”, explicou. “É possível que muitas populações de peixes estejam agora muito esgotadas para suportar níveis normais de doença, respondendo pela diminuição a longo prazo nos relatórios.”

Estes resultados ajudam os cientistas a perceber de que forma os ambientes em mudança alteram as interações das espécies e fornecem uma base sólida para a saúde da vida marinha. Os anos estudados “precedem as grandes ondas de calor de 2015, 2016 e 2019 que devem desencadear mais surtos”.

“Ao detetar estas mudanças nas doenças, os nossos resultados oferecem uma visão rara das tendências de longo prazo e vinculam a mudança do ambiente marinho ao risco de doença”, afirmou Allison Tracy, outra autora do estudo.

ZAP //

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