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Tomar paracetamol durante a gravidez pode afetar comportamento da criança nos primeiros anos

A ingestão de paracetamol durante a gravidez pode afetar o comportamento, atenção e temperamento das crianças nos primeiros anos de vida. O efeito tende a desvanecer-se com o passar dos anos.

No início dos anos 60, milhares de bebés nasceram com membros malformados, como resultado da mãe tomar talidomida — um medicamento usado para atenuar os enjoos matinais. A tragédia fez os médicos perguntarem-se que outros medicamentos poderiam ter efeitos prejudiciais ao feto.

Vários estudos foram feitos para tentar identificar outros medicamentos prejudiciais ao feto (teratogénicos). No entanto, esses estudos foram feitos com base no pressuposto de que qualquer dano seria óbvio no nascimento ou pouco tempo depois. Portanto, efeitos subtis, ou aqueles em que não seria óbvio até a criança ser mais velha (um adolescente ou até um adulto), dificilmente seriam detetados.

Mais recentemente, cientistas começaram a questionar-se se o paracetamol poderia ter um efeito teratogénico. Esta é uma questão importante, pois pelo menos metade de todas as mulheres grávidas na Europa e nos EUA tomam o medicamento durante a gravidez — mesmo que ocasionalmente.

Existem vários estudos, a partir dos anos 90, projetados para monitorizar as mães durante a gravidez e depois acompanhar os filhos. Os mais notáveis ocorreram na Noruega e na Dinamarca. Os investigadores observaram quais medicamentos foram tomados durante a gravidez, prescritos ou comprados sem receita, e acompanharam as crianças.

Ambos os estudos encontraram associações entre mães que tomavam paracetamol na gravidez e problemas comportamentais posteriores, como o Síndrome de Défice de Atenção e Hiperatividade na criança.

O mais recente estudo, publicado este domingo na revista Pediatric and Perinatal Epidemiology, também analisou os potenciais efeitos do uso de paracetamol durante a gravidez. Embora o tamanho da amostra seja menor do que os estudos escandinavos mencionados anteriormente (quase 14.000 crianças, em vez de 60.000 ou mais), há mais dados sobre as crianças e foram recolhidos com mais frequência.

Foi considerada a ingestão materna de paracetamol durante um período definido — de 18 a 32 semanas de gravidez, pelo qual foram conseguidas melhores informações sobre os motivos pelos quais a medicação foi tomada. O objetivo era saber se as crianças cujas mães tomaram paracetamol durante esses três meses de gravidez apresentavam um temperamento, comportamento ou QI diferentes em comparação com as crianças cujas mães não tomaram paracetamol durante esse período.

Para a cognição, os cientistas usaram testes criados por psicólogos. E para temperamento e comportamento, consideraram escalas em questionários que as mães completavam anualmente sobre os filhos durante os primeiros dez anos das suas vidas. Em particular, foi tida em conta a hiperatividade e atenção das crianças, agressividade, problemas emocionais, sociabilidade e comportamento negativo.

Paralelamente, e alheios às respostas dadas pelas mães, os professores das crianças preencheram escalas de um questionário semelhantes sobre o comportamento das crianças.

Dos 135 resultados investigados, os cientistas encontraram apenas um associado à cognição. Mas 12 resultados foram associados a diferenças de comportamento e temperamento. Essas associações não podem ser explicadas por coisas como dores de cabeça, rendimentos ou estilo de vida, porque esses fatores foram tidos em consideração na análise.

Estes resultados estão principalmente relacionados com o mau comportamento e hiperatividade, bem como com falta de atenção. Os cientistas descobriram que, à medida que a criança crescia, as associações enfraqueciam. Eram mais fortes entre os três e os quatro anos de idade, mas desapareceram aos oito.

Os investigadores sugerem então que as mulheres grávidas reduzam a ingestão de medicamentos, incluindo medicamentos sem receita, sempre que possível, uma vez que nenhum fármaco pode ser totalmente seguro para o feto.

ZAP //

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