Numa longa entrevista concedida à SAPO 24, Pedro Santana Lopes falou da sua visão para o país, sobre a relação de proximidade excessiva entre Marcelo e o Governo e sobre as próximas eleições legislativas.
As eleições legislativas aproximam-se e Pedro Santana Lopes mostra-se mais otimista que as sondagens. A mais recente calcula que a Aliança consiga eleger um deputado, mas de acordo com Santana, “se Deus quiser”, vão conseguir eleger dois ou três. Em relação a uma alegada coligação com o Nós Podemos, Santana Lopes diz que foram eles que a propuseram, mas que o seu partido rejeitou.
“Para nós só fazia sentido [uma coligação] se com o PSD e com o CDS houvesse a hipótese de ganhar à coligação de esquerda”, atirou.
O líder da Aliança falou ainda da falta de visibilidade do seu partido, que ao contrário de muitos outros, não recebe a cobertura necessária para que as pessoas conheçam a sua ideologia.
“As pessoas não sabem o que defendo. Se não vai à televisão, não existe. E nós, pura e simplesmente, não vamos à televisão. É uma vergonha: hoje tem lugar o primeiro debate entre líderes de partidos representados no Parlamento, e eu faço tenção de perguntar ao senhor presidente da República se não sente vergonha de ser presidente de uma República em que os novos partidos não podem debater”, disse, em entrevista ao SAPO 24.
Pedro Santana Lopes disse ainda que o partido só não se chamou Partido Social Liberal (PSL), uma vez que partilha as mesmas iniciais que o seu líder.
“Esta é a nossa ideologia: um partido com preocupações eminentemente sociais, mas que acredita nas virtualidades do liberalismo económico. Só que, diferentemente da Iniciativa Liberal, não somos liberais em tudo. Achamos que o Estado deve estar na saúde, deve estar na cultura – porque o país durante anos teve muita falta de formação cultural em muitas áreas, nomeadamente na música”, realça.
Questionado sobre a relação entre o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Governo de António Costa, Santana Lopes foi bastante direto: “Penso que há uma proximidade excessiva entre o presidente da República e o governo. Quem dera a todos os que já foram primeiros-ministros terem tido um presidente assim”, disse.
Confrontado com as críticas de que num dia apoiava o PSD e no outro criou a Aliança, Santana Lopes diz que é uma questão de estratégia, “de um caminho a seguir para alcançar o resultado que se pretende”.
E ainda deixou o alerta: “Os 130 mil milhões de euros de fundos comunitários que vieram até hoje para Portugal não serviram para colocar Portugal na média do rendimento per capita europeu”. Como tal, para mudar esse panorama, sugere uma negociação com Bruxelas para que os fundos europeus sejam reestruturados e concentrados no crescimento, investimento e produtividade. O político defende que “Bruxelas tem tanta responsabilidade nos fracos resultados quanto Portugal”.
Quanto à possibilidade formar Governo, Santana diz que não está prevista essa responsabilidade, “mas pode ser que participe num Governo” – num alternativo ao de António Costa, realçou.
Apesar de as sondagens apontarem a uma vitória socialista, Pedro Santana Lopes mostra-se surpreendido. “O SNS não funciona, as reformas não são pagas, houve estes escândalos das famílias, os resultados das políticas sociais, as cativações, os cortes, o estado da ferrovia… Se as pessoas tiverem um pouco mais de dinheiro no bolso, só um bocadinho, acham logo que as coisas estão melhor“, atirou.
E para o líder da Aliança, “há um esgotamento da maneira de fazer oposição“, com os partidos a discordarem e estarem sempre contra tudo e levando, assim, ao descrédito.
Questionado sobre o programa para salvar o SNS, Santana insiste num seguro de saúde para todos, até mais do que a generalização da ADSE. “O atual modelo do SNS gratuito é uma ficção. O SNS é gratuito, mas custa 11 mil milhões de euros. A nossa lógica é que o SNS tem de dizer sempre a quem dele usufrui qual o custo do serviço que presta e esse serviço deve ser pago”, explicou.
Em relação à Segurança Social, garante que “o modelo atual do Estado Social está falido. Por isso falamos em Estado solidário, apoiar as pessoas em função dos seus rendimentos”. A Aliança é contra, por exemplo, os manuais escolares para todos independentemente dos seus rendimentos.
“Não faz sentido algum ir a um stand comprar um Mercedes 350 e, antes de ir mostrar o carro novo, ir buscar o manual escolar para o filho. O Estado não tem dinheiro para isto tudo”, reiterou.
Santana Lopes aproveitou a montra para falar de algumas das suas propostas, como por exemplo a isenção nas ex-SCUT e taxas moderadoras em função dos escalões de IRS.
Em defesa da coesão territorial, garantiu que caso a Aliança chegasse ao Governo, “punha como condição tirar ministérios de Lisboa”. Para Santana, o centro e o sul deviam ter, pelo menos, a sede de três ministérios.