No domingo, milhares de manifestantes promoveram uma marcha pacífica até ao Consulado dos Estados Unidos para pedirem o apoio de Washington.
Milhares de estudantes do liceu estão, esta segunda-feira, a fazer um cordão humano em várias escolas de Hong Kong em solidariedade para com os manifestantes pró-democracia, depois de mais um fim-de-semana marcado por violentos confrontos.
O protesto silencioso dos estudantes foi promovido depois de o Governo de Hong Kong condenar o “comportamento ilegal de manifestantes radicais” e alertar os governos estrangeiros a “não interferirem de forma alguma nos assuntos internos” da região administrativa especial chinesa.
No domingo, milhares de manifestantes promoveram uma marcha pacífica até ao Consulado dos EUA para pedirem o apoio de Washington. Segundo o Expresso, os protestantes cantaram o hino nacional norte-americano, acenaram com bandeiras norte-americanas, cartazes e gritos como “Libertem Hong Kong, aprovem a lei” e outros foram mais longe, tendo desenhado a cruz suástica na bandeira da China, acompanhada pelo termo “Chinazi”.
A agência Reuters avança que os manifestantes apelam aos deputados norte-americanos que aprovem legislação sobre os direitos humanos e democracia em Hong Kong. Em causa está uma lei bipartidária que exige uma justificação anual do tratamento especial assegurado por Washington a Hong Kong no âmbito da Lei de Política EUA-Hong Kong.
A violência, à semelhança do que aconteceu ao longo de todo o verão, acabou por eclodir mais tarde. Alguns jovens vandalizaram estações de metro, foram responsáveis por vários focos de incêndio no centro da cidade e bloquearam o tráfego, levando a polícia a disparar gás lacrimogéneo e a realizar cargas policiais para dispersar os manifestantes.
O Governo de Hong Kong anunciou, na semana passada, a retirada formal das emendas à polémica lei da extradição que esteve na base da contestação social desde junho.
Contudo, os manifestantes consideraram que este “passo para as tréguas” já foi tardio e, portanto, continuam a exigir que o Governo responda a outras quatro reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos; um inquérito independente à violência policial; que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins e, finalmente, a demissão da chefe de Governo, Carrie Lam, e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo (Parlamento).
Na sequência dos protestos, as empresárias Pansy Ho (filha do magnata do jogo Stanley Ho) e Annie Wu Suk-ching (filha do fundador do grupo de restauração Maxim James Tak Wu) vão na terça-feira às Nações Unidas, em Genebra, para dizer que aquilo que consideram ser “manifestantes radicais” não representam os cidadãos de Hong Kong.
As duas mulheres vão participar numa reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, segundo noticiou este domingo o jornal “South China Morning Post”.
“As opiniões de um pequeno grupo de manifestantes radicais não representam as opiniões de todos os 7,5 milhões de cidadãos de Hong Kong. Os atos violentos sistemáticos e calculados deste grupo nunca foram tolerados por todos os cidadãos de Hong Kong”, vão dizer as duas empresárias, de acordo com o discurso a que o jornal sediado naquela região teve acesso.
No discurso, a multimilionária Pansy Ho diz que a proposta às emendas à lei da extradição foram “bem-intencionadas”, mas foram “sequestradas” por manifestantes radicais que usaram como “propaganda para minar a autoridade do Governo de Hong Kong de proteger os direitos de um de seus cidadãos”.
A filha mais velha do magnata do jogo defenderá ainda o uso de gás lacrimogéneo e balas de borracha que os polícias têm utilizado contra os manifestantes e afirmará que os protestos tiveram um “impacto prejudicial” na economia de Hong Kong.
A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”. Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.
A 1 de outubro, a China celebra a fundação da República Popular e o Governo de Pequim quer Hong Kong pacificada antes da data.
ZAP // Lusa