O primeiro-ministro do Canadá violou a lei quando pressionou a antiga ministra da Justiça a favorecer a maior empresa de construção do país, num processo de pagamento de subornos, indicou o comissário federal de Ética canadiano.
O relatório, divulgado na quarta-feira pelo comissário federal de Ética, Mario Dion, apontou que Justin Trudeau violou a lei de conflito de interesses ao ordenar aos ministros que “encontrassem uma solução que protegesse os interesses comerciais da SNC-Lavalin no Canadá”, noticiou a agência Lusa.
As pressões de Justin Trudeau foram confirmadas pela própria ex-ministra da Justiça Jody Wilson-Raybould, que se demitiu em fevereiro passado.
A SNC-Lavalin foi acusada pelo Ministério Público de pagar subornos a altos funcionários do antigo regime do líder líbio Muammar Khadafi, incluindo a alguns dos filhos do antigo dirigente, para conseguir contratos no país africano.
Jody Wilson-Raybould indicou que Justin Trudeau pretendia um acordo, a ser proposto pelo Ministério Público, para evitar a penalização da SNC-Lavalin com a exclusão dos contratos públicos durante dez anos.
Quando o Ministério Público recusou propor o acordo, Jody Wilson-Raybould, também Procuradora-Geral, disse ter sido pressionada a obrigar os procuradores a mudar de decisão, o que negou fazer. Segundo a própria, Justin Trudeau disse-lhe que uma condenação contra a SNC-Lavalin iria levar a uma possível perda de empregos e que isso teria implicações eleitorais.
As eleições gerais do Canadá estão marcadas para 21 de outubro.
A SNC-Lavalin já foi penalizada anteriormente pelo Banco Mundial por pagar subornos no Bangladesh. A empresa também está envolvida no pagamento de subornos para obter um contrato para a construção de um hospital em Montreal.
As acusações contra o primeiro-ministro e as demissões de Jody Wilson-Raybould e da ministra do Tesouro Jane Philpott causaram a maior crise no Governo de Justin Trudeau.
Horas depois da divulgação do relatório, o primeiro-ministro canadiano assumiu as responsabilidades pelos erros que cometeu, embora não concorde com algumas das conclusões de Mario Dion, recusando-se ainda a pedir desculpas.
“Discordo da conclusão [de Mario Dion] de que qualquer contacto com o Procurador Geral nesta questão era necessariamente inadequado”, apontou.
“Não posso pedir desculpa por defender os empregos canadianos porque é parte do que os canadianos esperam de mim, que eu defenda as nossas instituições e, como o comissário de ética sublinhou, estes dois elementos entraram em conflito de uma forma infeliz sobre a qual assumo total responsabilidade”, afirmou o primeiro-ministro.
E acabou, concluindo: “vamos garantir que isso nunca aconteça novamente com qualquer Governo no Canadá”.