Benjamin Netanyahu foi o primeiro chefe de Governo de Israel a nascer no país — em Telavive, a 21 de outubro de 1949, um ano após a criação do Estado. Foi também o primeiro-ministro mais novo a assumir o cargo — tinha 47 anos.
A partir deste sábado, conta o Expresso, acumula um terceiro recorde: passa a ser o governante que exerceu a chefia do Governo durante mais tempo. Ultrapassa o histórico David Ben-Gurion, um dos pais fundadores do Estado de Israel, que foi primeiro-ministro durante 4875 dias: entre 14 de maio de 1948 e 26 de janeiro de 1954 e novamente entre 3 de novembro de 1955 e 26 de junho de 1963.
Aos 69 anos, “Bibi”, como é chamado, foi primeiro-ministro durante 13, em dois períodos não consecutivos: de 18 de junho de 1996 a 6 de julho de 1999 e desde 31 de março de 2009. Este sábado, completa 4876 dias no cargo.
A 4 de novembro de 1995, dois anos após israelitas e palestinianos assinarem os Acordos de Oslo, a esperança cai por terra com a notícia do assassínio do primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin. Na liderança do Likud, um dos partidos históricos de Israel, havia dois anos, Netanyahu protagonizara uma mudança geracional.
O desaparecimento de Rabin precipita o país para eleições, a 26 de maio de 1996: o Likud vence, Netanyahu toma posse como primeiro-ministro e herda um país em choque.
Netanyahu encontra-se com Yasser Arafat pela primeira vez a 4 de setembro de 1996, na passagem fronteiriça de Erez, entre Israel e a Faixa de Gaza. A convivência entre ambos pautar-se-ia pela desconfiança, agravada pelas discordâncias de Netanyahu em relação às premissas dos Acordos de Oslo.
No poder, Netanyahu não rasga Oslo, mas não faz dele uma prioridade. Os colonatos judeus em território palestiniano intensificam-se irreversivelmente.
Nascido na Faixa de Gaza, sob ocupação israelita, o movimento islamita Hamas nunca teve em Netanyahu um interlocutor. Em 1997, o primeiro-ministro israelita tenta mesmo decapitar o grupo e autoriza uma operação da Mossad para assassinar o seu líder, Khaled Mashal, na Jordânia.
Disfarçados de turistas canadianos, cinco agentes conseguem injetar veneno em Mashal, mas são descobertos. O rei Hussein exige a Israel a cedência do antídoto sob pena de anular o tratado de paz jordano-israelita celebrado três anos antes. Fortemente pressionado pela Casa Branca, Netanyahu cede.
Entre os dois períodos que serviu como primeiro-ministro, Netanyahu tem uma fase em que trabalha no sector privado e outra em que participa — como ministro dos Negócios Estrangeiros e das Finanças — em governos liderados por Ariel Sharon.
A carreira política leva um forte impulso quando é promovido um plano unilateral de retirada de tropas e colonos da Faixa de Gaza e posterior devolução do território à Autoridade Palestiniana. Netanyahu discorda em absoluto e, a 7 de agosto de 2005, demite-se. Muitos israelitas interpretam a saída de Israel de Gaza como um sinal de fraqueza e identificam-se com a posição assumida por Netanyahu.
Em dezembro desse ano, recupera a liderança do Likud e lança-se novamente no combate pela liderança do país.
A 6 de abril de 2009, menos de três meses após entrar na Casa Branca, Barack Obama dirige-se ao mundo islâmico. “Os EUA não aceitam a legitimidade de contínuos colonatos israelitas”, diz. Em Israel, Netanyahu é novamente primeiro-ministro.
A 14 de junho seguinte, num discurso na Universidade Bar-Ilan, nos arredores de Telavive, o israelita enumera as suas condições para apoiar uma Palestina independente: Jerusalém seria a capital unificada de Israel, os palestinianos não teriam exército e abdicariam do direito de regresso dos refugiados. Netanyahu reclama também o direito ao “crescimento natural” dos colonatos existentes na Cisjordânia.
A 27 de setembro de 2012, Netanyahu vai à Assembleia Geral da ONU munido de um marcador e de uma cartolina com o desenho de uma bomba prestes a detonar. “A questão relevante não é quando vai o Irão obter a bomba”, diz. “A questão relevante é em que fase deixa de ser possível impedir que o Irão obtenha a bomba.” Traça na cartolina uma linha vermelha a partir da qual o Irão não deve ser autorizado a continuar a enriquecer urânio.
Nos anos seguintes, falar da República Islâmica e das suas ambições nucleares torna-se um clássico nos discursos de Netanyahu na ONU, em especial após a assinatura do acordo internacional de 2015.
Nos últimos dez anos, a Faixa de Gaza foi alvo de três operações militares israelitas de grande envergadura. A mais mortífera, a “Barreira Protetora” em 2014 começa cerca de um mês após Hamas e Autoridade Palestiniana anunciarem a formação de um governo de unidade nacional.
As duas fações palestinianas estavam desavindas desde 2007 quando o Hamas tomou o poder pela força em Gaza e a Cisjordânia ficou sob controlo da AP. Segundo a ONU, na “Barreira Protetora” morreram 2251 palestinianos, em sete semanas de bombardeamentos. Israel confirmou 67 militares e seis civis mortos.
Nas eleições de 9 de abril passado, os dois partidos mais votados elegem cada um 35 deputados. Mas a vantagem de 0,33% dos votos a favor do Likud é suficiente para que Netanyahu seja reconduzido num quinto mandato — o quarto consecutivo — como primeiro-ministro de Israel.
As negociações para formar governo revelam-se uma missão impossível. Netanyahu garante o apoio dos partidos religiosos ultraortodoxos, prometendo continuar a isentá-los do cumprimento do serviço militar. Essa exceção é polémica, já que a tropa é obrigatória e universal em Israel. Num país em que os executivos são sempre de coligação, Netanyahu torna-se o primeiro candidato a primeiro-ministro a não conseguir formar governo.
Nos próximos dias 2 e 3 de outubro, está prevista a sua audição no âmbito de três grandes investigações a casos de corrupção em que a polícia recomendou que Netanyahu fosse indiciado por suborno, fraude e abuso de confiança. Se for acusado e continuar a ser primeiro-ministro, não está legalmente obrigado a renunciar, apenas se for condenado e quando esgotados todos os recursos.