Portugal foi, há três anos, o terceiro Estado-membro da zona euro a ver-se forçado a solicitar ajuda externa, atingido pelo chamado “efeito dominó” da crise da dívida soberana, que chegou a ameaçar o próprio projeto do espaço monetário único.
A crise financeira, que começou a atingir seriamente países do euro em 2009, com os mercados em alerta vermelho, começou por atingir a Grécia, o Estado-membro mais vulnerável devido a uma economia com grandes desequilíbrios, cuja realidade foi posta a descoberto, assim como a famosa “batota” nas contas públicas que transmitia a Bruxelas.
Depois de a Grécia ter de pedir um (primeiro) resgate, em maio de 2010, seguiu-se a Irlanda, em novembro do mesmo ano, e Portugal, em abril de 2011, registando-se como elemento comum a todos estes pedidos de assistência a recusa dos governos em admitirem a sua necessidade até ao limite, adiando por alguns meses a inevitabilidade do “SOS”.
Efeito de contágio
O efeito de contágio ia-se alastrando, pondo também a nu a ausência de instrumentos ao nível da União Europeia para fazer face a uma crise de tais dimensões — só nos anos seguintes seriam dados passos no sentido da construção de uma união bancária e de mecanismos de estabilização -, e chegou-se a temer que o “dominó” arrastasse peças-chave da economia europeia, como Espanha e Itália, tendo muitos analistas, dentro e fora da Europa, antecipado mesmo a desintegração do euro.
O primeiro resgate na zona euro devido à crise financeira e económica foi protagonizado pela Grécia, com o governo então liderado pelo socialista George Papandreou a “dar o braço a torcer” após muitos meses de “negação”, e perante forte pressão dos seus parceiros europeus, e a pedir um pacote de assistência financeira de 110 mil milhões de euros.
Os problemas haviam começado cerca de dois anos antes, quando os mercados reagiram sem misericórdia à revelação de que a Grécia fizera “batota” durante anos a fio com as estatísticas, ocultando os números do défice.
O programa deveria ter a duração de três anos, mas ao fim de ano e meio já se revelava demasiado “curto” para a caótica situação da Grécia, que em outubro do ano passado teve de ser alvo de um novo resgate, o mais volumoso até agora, de 130 mil milhões de euros, complementado com um perdão parcial da dívida por parte dos credores privados avaliado em cerca de 100 mil milhões de euros.
Por razões muito diferentes — não despesa pública, mas sim garantias dadas aos bancos -, a Irlanda foi o segundo país que se viu forçado a pedir ajuda externa, concretizada em novembro de 2010, com União Europeia e Fundo Monetário Internacional a concederem um pacto de 85 mil milhões de euros, exigindo, tal como fizera a Atenas, o cumprimento de um rigoroso plano de austeridade, ainda em curso.
Por fim, Portugal, também após largos meses a garantir que não precisava de dinheiro, formalizou o seu pedido de assistência, a 06 de abril de 2011, acompanhado pela marcação de eleições antecipadas, que ditariam mudança de Governo, com o executivo socialista de José Sócrates a dar lugar à coligação PSD/CDS-PP encabeçada por Pedro Passos Coelho, ainda hoje no poder.
Em junho de 2012, foi a vez de a Espanha solicitar auxílio externo, embora neste caso para o setor bancário em específico, escapando assim um pouco ao “estigma” de um resgate, e mais tarde, em 2013, foi a vez de Chipre, até ver o último Estado-membro da zona euro a pedir ajuda.
Lusa