Investigadores suíços realizaram o primeiro estudo nacional sobre a qualidade do sémen, concluindo que apenas 38% dos homens têm os valores dos parâmetros para homens férteis acima das normas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A qualidade do sémen dos jovens suíços está em “estado crítico”, afirmou um dos responsáveis pela análise, que incluiu 2523 indivíduos.
A contagem de esperma tem diminuído constantemente nas últimas cinco décadas, com diferenças regionais no mundo ocidental. No caso dos homens suíços, nenhum estudo tinha avaliado, até à data, a sua saúde reprodutiva.
Segundo noticiou o Tech Explorist na quarta-feira, cientistas da Universidade de Genebra (UNIGE), na Suíça, em conjunto com outras instituições e com apoio logístico do exército suíço, avaliaram pela primeira vez a qualidade do sémen de homens entre 18 e 22 anos.
No estudo, publicado na terça-feira na revista Andrology, foram analisados jovens de todas as regiões da Suíça, durante o recrutamento militar, quanto ao volume do sémen, à concentração espermática, à motilidade e à morfologia. Os participantes preencheram ainda um questionário sobre a sua saúde, o estilo de vida, a dieta e a educação.
Os pais dos jovens foram também analisados relativamente ao estilo de vida, à dieta, à saúde e à gravidez. Esta etapa foi projetada para avaliar as condições em que a gestação ocorreu e avaliar o possível impacto sobre a saúde reprodutiva dos participantes.
A qualidade do sémen é definida por três parâmetros importantes: a concentração de espermatozóides, a sua motilidade e a sua morfologia.
De acordo com Rita Rahban, investigadora do Departamento de Medicina Genética e Desenvolvimento e primeira autora do estudo, valores baixos nos parâmetros podem refletir na fertilidade masculina e na sua capacidade para reproduzir.
A contagem de espermatozóides varia de um país para outro, com concentrações médias entre 41 a 67 milhões por mililitro de sémen nos jovens europeus. A título de comparação, os homens suíços, com 47 milhões por mililitro de sémen, acompanham países como a Dinamarca, a Noruega e a Alemanha.
Os resultados do estudo indicam que 17% dos jovens tinham uma concentração de espermatozóides abaixo de 15 milhões por mililitro e 25% tinham menos de 40% de espermatozóides no seu sémen. A taxa de formas morfologicamente normais foi inferior a 4% em 40% dos indivíduos.
“Precisamos ser cautelosos em relação à análises ao sémen. Não é totalmente preditivo da fertilidade. Mas, em termos gerais, os resultados sugerem que a qualidade espermática dos jovens na Suíça está num estado crítico e que sua futura fertilidade será, com toda probabilidade, afetada”, afirmou Alfred Senn, andrologista e co-autor do estudo.
Não foram identificadas variações na qualidade dos espermatozóides entre as várias regiões geográficas da Suíça – urbanas e rurais -, nem entre os diferentes estilos de vida.
No entanto, como indicou Serge Nef, professor do Departamento de Medicina Genética e Desenvolvimento da Faculdade de Medicina da UNIGE, a infertilidade foi mais comum entre os homens expostos ao tabagismo materno durante o desenvolvimento embrionário.
Os cientistas analisaram igualmente a relação entre a má qualidade do sémen e o aumento do cancro testicular. Essa análise foi realizada com recurso a dados obtidos no Instituto Nacional de Cancro Epidemiologia e Registo (NICER).
“Por 35 anos, o cancro no testículo tem crescido constantemente, com mais de 10 casos por cada 100 mil homens, o que é muito alto em comparação com outros países europeus. A qualidade do esperma é geralmente menor em países onde a incidência de cancro testicular é alta. Isso é, quase certamente, o resultado de um desenvolvimento testicular alterado no estágio fetal, precisando os cientistas de investigar melhor essa área”, referiu Serge Nef.
Já Rita Rahban acrescentou: “Também gostaríamos de voltar a analisar os 2.523 homens que participaram no estudo daqui a cerca de 10 anos, para acompanhar a sua saúde reprodutiva e verificar se tiveram filhos ou se sofreram de cancro testicular, por exemplo”.
“Com a tendência atual de ter filhos mais tarde, a baixa contagem de espermatozóides entre homens jovens na Suíça – combinada com o declínio da fertilidade de mulheres mais velhas – terá um impacto nas taxas de conceção e nas gerações futuras. Isso levará a desafios sociais e financeiros significativos para a nossa sociedade”, completou o investigador Alfred Senn.