O mundo era um lugar perigoso no começo do terceiro milénio a.C. A Idade do Bronze estava a começar e a Europa estava em plena transformação.
Para o leste do continente, os povos das estepes mudaram-se para o oeste e entraram em contacto com as pessoas que já viviam na região.
Perto da atual cidade de Koszyce, ao sul da Polónia, os arqueólogos passaram anos a estudar um túmulo no qual descansam 15 pessoas, mulheres, homens e crianças. Os 15 foram executados com golpes na cabeça.
Paradoxalmente, as análises arqueológicas e genéticas revelaram que foram enterrados com extremo cuidado, juntamente com os bens rituais e respeitando os laços familiares que os uniam na vida. Tudo indica que os sobreviventes do massacre regressaram ao local para enterrar os seus mortos.
De acordo com a ABC, as análises acabam de ser publicadas na revista Proceedings of the National Academy of Sciences e vislumbram uma profundidade sem precedentes na violência e nas estruturas sociais que existiam no final do Neolítico.
Os investigadores fizeram um estudo aprofundado das feridas das vítimas. Aplicaram técnicas de datação por radioisótopos no esmalte dos dentes e realizaram análises genómicas para reconstruir as relações de parentesco entre todos.
Tudo isto “permitiu traçar uma imagem consideravelmente detalhada da comunidade neolítica tardia, incluindo a sua ancestralidade genética, aparência física, estrutura de parentesco e organização social”, escrevem os autores, liderados por Hannes Schroeder. Os investigadores descobriram que os corpos foram cuidadosamente colocados de acordo com as suas relações de parentesco, por alguém que os conhecia.
As análises genéticas revelaram que os mortos não possuem genomas dos grupos da cultura da cerâmica cordada. Como os autores sugeriram, isto sugere que “embora a razão para o massacre seja desconhecida, é possível que estivesse ligado à expansão dos grupos da cerâmica cordada, uma vez que poderia ter levado à competição por recursos e conflitos violentos.”
Além disso, análises detalhadas dos 15 esqueletos revelaram a presença de seis linhas maternas. Tudo indica que era uma família numerosa, ligada por relações de parentesco de primeiro e segundo grau, compostas por quatro famílias nucleares. Quem os enterrou sabia dessas relações, porque colocou as mães e os filhos juntos.
Descobriu-se que quatro indivíduos eram meios-irmãos, de mães relacionadas, e a ausência de homens ou pais é surpreendente: sugere que foram eles que enterraram as suas famílias.
Na verdade, apenas um pai foi encontrado, cuja parceira e filho estão do outro lado do túmulo, e uma criança, cujos pais não estão presentes, mas que está perto de tios e sobrinhos. Há também uma mulher geneticamente não relacionada a qualquer pessoa do grupo, mas que é próxima de um jovem.
Tudo isto indica que as famílias nucleares faziam parte de grupos familiares ampliados, permanentemente ou sazonalmente.
Todos os falecidos sofreram lesões cranianas e, em alguns casos, lesões de defesa, que são fraturas nos membros superiores produzidas quando uma pessoa tenta defender o rosto ou cabeça com os braços. Isso indica que foram capturados e executados. O episódio excaixa com a violência generalizada e frequente na pré-história europeia. Parece que a violência letal e os massacres foram especialmente abundantes em tempos de competição por recursos e expansão de grupos por territórios já ocupados.
Até agora, foi observado que a violência letal se concentrava em comunidades inteiras ou apenas em homens, nos quais crianças e mulheres eram cativas. O túmulo de Koszyce encaixa no primeiro caso e indica que os homens fugiram ou estavam fora quando os inimigos atacaram a família.
A triste História da Humanidade!