Na segunda-feira, no dia em que o PSD comemorou 45 anos, o líder social democrata Rui Rio foi ao cinema ver o filme português “Snu”, baseado na história de amor entre Snu Abecassis e Francisco Sá Carneiro. No discurso, relembrou a seriedade e a convicção daquele que foi um dos fundadores do partido.
Frontalidade, convicção, seriedade, garra ou coragem foram alguns traços da personalidade de Francisco Sá Carneiro apontadas por Rui Rio, que acredita serem “a raiz do PSD”. “A raiz de tudo isto é o perfil do Dr. Sá Carneiro”, disse o social-democrata, citado pelo Observador na segunda-feira.
Rui Rio referiu que nesta “época política” estas são “as características que mais falta fazem, também por isso estão mais valorizadas”, referindo-se à crise política do fim de semana passada. “É evidente que aquilo que se passou nos últimos dias em Portugal, marca muito bem esta diferença. Tudo aquilo que se passou por parte do Governo foi o contrário disto que o Dr. Sá Carneiro valorizava e defendia”.
O líder do PSD foi mais longe: “Eu não estou a ver o Dr. Sá Carneiro a ensaiar um golpe de teatro e a demitir-se como primeiro ministro porque lhe dá jeito na tática partidária, era um homem de Estado e esta é a nossa matriz”.
De acordo com o Expresso, o líder do PSD começou a sua intervenção por referir que fazia na segunda-feira “45 anos que Sá Carneiro, Pinto Balsemão e Magalhães Mota fizeram uma conferência de imprensa numa sala pequenina em Lisboa”, para lançar o partido que era conhecido como “o partido mais português”.
E explicou, referindo que uma das razões era boa e outra “se calhar hoje as pessoas até vão achar que não é positiva”. “Sá Carneiro quis pedir a adesão do PPD à Internacional Socialista, onde estavam os partidos social-democratas, mas não entrámos porque PS já lá estava e proibiu. Então, o PSD era o partido mais português porque não dependia de ninguém lá fora. Reforçámos a identidade nacional à custa do que o PS fez”, considerou.
Quanto à segunda caraterística, a boa, Rui Rio disse que o PSD era “um partido heterogéneo, o partido que representava a classe média e a médias das classes”.
Como notou o Observador, Rui Rio já assumiu várias vezes o seu fascínio pela figura de Francisco Sá Carneiro, afirmando que foi pela sua influência que se tornou militante do PSD. Diz-se “duplamente agradecido” ao fundador do partido, pois graças a ele o seu destino não foi o PS.
“Já disse muitas vezes, porque é rigorosamente verdade, eu não entrei para o PPD, eu entrei para o partido do Dr. Francisco Sá Carneiro. Portanto, se nós hoje temos de estar agradecidos ao Dr. Sá Carneiro eu tenho de estar duplamente agradecido, porque se o Dr. Sá Carneiro não tivesse feito um partido, eu se calhar tinha ido para o PS, vejam bem o que me tinha acontecido. Portanto, eu a ele estou duplamente agradecido por ter feito um partido e por me ter livrado de semelhante coisa e de poder estar hoje aqui”.
Aos 45 anos, Rui Rio admitiu que o partido “apresenta o desgaste normal” e que compete ao PSD alterar isso, fazendo “as reformas necessárias que se impõem” para que continue a ser “o mesmo partido, mas no século XXI, em 2019”.
Rangel critica “jogos palacianos” do Governo
Também Paulo Rangel, cabeça de lista do PSD às próximas eleições europeias, subiu ao púlpito montado na sala 8 dos cinemas do Norteshopping, em Matosinhos, no qual elogiou “a frontalidade na ação política” de Francisco Sá Carneiro, afirmando que “nos dias de hoje” é algo que “deve inspirar”.
“Quando vemos a política portuguesa nos últimos dias dominada pelos jogos palacianos, pelas dissimulações, pelo taticismo, a lição de Sá Carneiro, da sua frontalidade e da sua radicalidade, – era radical no sentido de levar até ao fim as consequências dessa frontalidade – é um exemplo”, declarou.
Para Paulo Rangel, nada há a temer no PSD. “Nós não devemos tremer nem ficar preocupados, quando alguns se julgam ser lideres políticos ou se julgam verdadeiros lideres, fazem jogadas de oportunismo político, ou de tacticismo eleitoral”.
O candidato social democrata à Europa tem “a certeza” que os portugueses “sabem perfeitamente distinguir quem faz as coisas por convicção, quem assume a coerência, quem não anda atrás dos ‘media’, quem não precisa de invadir com três mosqueteiros ao mesmo tempo todos os telejornais para passar a sua mensagem”, criticando a “pequena crise política” instalada no passado fim de semana.
“Se nós temos razão, se estamos convencidos que o caminho que estamos a seguir é o correto, nós não precisamos de propaganda, de impor de uma forma, eu quase diria, encenada, começando pela manhã com reuniões das quais saem fotografias, passando para o meio do dia com audiências e depois com o discurso e depois com três ministros nas televisões”, salientou.
Segundo Paulo Rangel, “isto não é um sinal de força, não é um sinal de razão, é um sinal de medo, de receio, de não estar seguro da sua convicção”.
A forma como o PSD reagiu a esta crise, ontem com as declarações de Rui Rio a partir do Porto, é para Paulo Rangel um “motivo de orgulho”. “Devemos estar orgulhosos da forma como o nosso partido esteve e está e como respondeu a essa ofensiva tática”, acrescentando que se tratou de uma “forma digna de honrar e celebrar a memória” do fundador Francisco Sá Carneiro.
Para o candidato às eleições europeias foi a mesma frontalidade de Sá Carneiro “que esteve por detrás da nossa resposta clara e inequívoca ontem às provocações do tacticismo”, estando por isso “convicto” que isso “será reconhecido” pelos portugueses nas eleições europeias, marcadas para o próximo dia 26 de maio.
Uma festa de aniversário numa sala de cinema
O PSD decidiu comemorar os seus 45 anos no cinema. Nos painéis luminosos a sessão do filme “Snu”, no centro comercial em Matosinhos, estava marcada para as 21:00 e aparecia completamente esgotada. À porta da sala 8, em vez da sinopse do filme, estava o rosto de Sá Carneiro num fundo laranja e os 45 anos bem gordos, contou o Observador.
Entre dezenas de pessoas que distribuíam bilhetes de cinema e se cumprimentavam longamente, surgiu primeiro Paulo Rangel, e, mais tarde, Rui Rio. Juntos, entraram numa sala já bem composta, com poucos lugares livres dos 262 disponíveis.
Junto à tela de cinema estava um púlpito laranja, três bandeiras – de Portugal, da União Europeia e do PSD -, e das colunas não soavam os tradicionais anúncios, mas sim o hino do partido.
No mesmo dia, em 11 salas, distribuídas de norte a sul do país, o filme foi exibido para militantes do partido. Estreado em março, foi escrito e realizado por Patrícia Sequeira e protagonizado por Inês Castel-Branco e Pedro Almendra.