A Boeing garantiu que tem vindo a trabalhar em melhoramentos “nos últimos meses, e na sequência do acidente com o Lion Air 610”, a 29 de outubro de 2018, na Indonésia.
Em comunicado, a Boeing diz que vai aplicar melhorias no 737 Max “a partir das próximas semanas”, incluindo “atualizações do MCAS, dos mostradores usados pelos pilotos, dos manuais de operações e na formação das equipas”.
O fabricante norte-americano de aviões promete mudanças relevantes na configuração do Boeing 737 Max, depois de este modelo ter estado envolvido em dois acidentes aéreos muito semelhantes que mataram 346 pessoas.
O desastre mais recente, no domingo passado, na Etiópia, levou à interdição deste modelo no espaço aéreo de 32 países europeus e em mais uma dezena de outros países.
As “atualizações” vão de encontro a todas as queixas que têm sido formuladas por pilotos que têm estado a operar o 737 Max, a começar pelos profissionais da norte-americana Southwest Airlines, que é o principal cliente deste modelo. Segundo o Público, a Southwest exigiu ao fabricante que melhorasse a principal novidade desta geração da família 737, o MCAS, logo após a queda do avião da Lion Air, onde morreram 189 pessoas.
O fabricante confirmou no comunicado que as mudanças a introduzir em breve se basearam “no feedback de clientes”. A Southwest encomendou 280 unidades do 737 Max 8, a maior encomenda de uma só companhia em todo o mundo.
Na sequência do desastre na Indonésia, a transportadora pediu alterações no MCAS, um mecanismo tecnológico que deveria atuar de forma automática sobre o estabilizador horizontal do aparelho, em caso de perda de sustentação.
O relatório da investigação ao Lion Air 610 revelou que este MCAS atuou 26 vezes nos 12 minutos que durou o fatídico voo até à queda, um facto que ajuda a justificar o acidente e só se explica devido a um mau funcionamento do MCAS, que terá agido com base em dados errados recolhidos por uma das duas sondas que alimenta o sistema.
“Nos últimos meses, a Boeing tem vindo a desenvolver melhoramentos no software de controlo de voo do 737 Max, para tornar este modelo ainda mais seguro. Isto inclui atualizações do MCAS, dos instrumentos de apoio visual para pilotos, dos manuais e da formação de equipas”, escreve a empresa.
O fabricante nota que o MCAS introduzido na série 737 Max “foi testado em voo durante o processo de certificação”. Suspeita-se que esse automatismo possa ter tido influência fatal no acidente de domingo, tendo em conta o que se sabe sobre o que ocorreu: instável velocidade vertical, problemas nos primeiros minutos após a descolagem e caída a pique.
Boeing em queda na bolsa
O segundo acidente fatal com um 737 Max em menos de cinco meses está a “custar” à Boeing uma grande fatia do seu valor de mercado, de acordo com o Fortune.
Na sequência do acidente de domingo, na Etiópia, as ações afundaram mais de 5% na segunda-feira, desvalorização prolongada na terça-feira, depois de uma série de países terem decidido proibir o uso dos modelos 737 Max 8 e 737 Max 9 no seu espaço aéreo.
Os títulos da fabricante norte-americana descem 7,32% para 370,72 dólares, depois de já terem desvalorizado um máximo de 8% para 368 dólares, o valor mais baixo desde 29 de janeiro. Esta quebra segue-se à sessão “negra” de segunda-feira, em que as ações chegaram a afundar 13,49%, a maior perda em bolsa desde os ataques do 11 de setembro. Acabaram por fechar o dia com uma quebra menos expressiva de 5,33%.
Em apenas dois dias, os títulos já acumulam uma desvalorização de 12%, que se traduz numa diminuição de 29,3 mil milhões de dólares no valor de mercado.
UE fechou espaço aéreo ao Boeing 737 MAX 8
Na terça-feira, a União Europeia fechou todo o seu espaço aéreo a voos do Boeing 737 MAX 8. A decisão foi tomada na tarde desta terça-feira pela Agência Europeia de Segurança Aérea (EASA), depois de dezenas de países terem proibido o voo daquele modelo nos seus espaços aéreos.
A proibição abrange 32 países e entrou em vigor às 19h00. Portugal não fazia parte do grupo de países que decidiu unilateralmente, mas está abrangido pela decisão.
Em comunicado, a EASA garantiu que está a acompanhar as investigações à queda do avião da Ethiopian Airlines. Além do modelo deste avião, a proibição diz respeito também ao modelo MAX 9.
Entretanto, a Autoridade Nacional de Aviação Civil anunciou que vai seguir as orientações da EASA e fechar o espaço aéreo português àqueles aviões. Numa nota, pode ler-se que o regulador vai “interditar o espaço aéreo nacional e sob jurisdição portuguesa a todos os voos operados por aeronaves Boeing 737 — 800 MAX e 737 — 900 MAX, por qualquer transportadora aérea que pretenda aterrar, descolar ou sobrevoar”.
A pressão é muita, com dezenas de países a proibirem os aparelhos nos seus espaços aéreos e a não os deixarem operar. Na terça-feira à noite, em comunicado, a Administração Federal de Aviação declarou que não há “bases” para ordenar que os Boeing 737 MAX deixem de operar.
Há mais de 30 companhias aéreas a usar o modelo Boeing 737 MAX 8. Destas, há pelo menos 27 que já interromperam os voos com os aviões deste modelo — incluindo a Ethiopian Airlines — e mais duas que se preparam para o fazer, segundo a BBC.
Dezenas de países, como o Reino Unido, Austrália, Alemanha, França, Singapura, Irlanda, Malásia, Omã, Mongólia, Coreia do Sul, Holanda, Itália, Polónia e Bélgica, impediram estas aeronaves de entrarem no seu espaço aéreo. A China ordenou a todas as companhias aéreas chinesas que parassem de imediato de usar estes aviões.
Há nove companhias com estes modelos a operar em Portugal: a Norwegian Air Shuttle, que já deixou de usar os aviões; todas as companhias do grupo TUI (cinco), Enter Air, Royal Air Maroc, Smartwings e Turkish Airlines. As companhias aéreas portuguesas não usam este modelo.
Os voos em Portugal já sofreram consequências por causa da decisão inicial de vários países não permitirem o voo daquele modelo. Esta terça-feira, no Aeroporto Internacional da Madeira, havia um Boeing 737 MAX 8 retido depois de o voo da companhia aérea Norwegian Airlines ter sido cancelado. Porém, segundo o Diário de Notícias da Madeira, o avião acabou por não embarcar os passageiros e levantou voo, de regresso a Oslo, apenas com a tripulação.
EUA dizem que avião é seguro
Os Estados Unidos estão sobre pressão e para já não tomam qualquer decisão. O regulador americano de aviação, companhias aéreas e fábricas de aeronaves mantêm a posição de que o Boeing 737 MAX 8 é seguro.
Em comunicado, a FAA revelou que não iria tomar qualquer decisão para já e que “não foram fornecidos dados para tirar conclusões ou tomar quaisquer ações”. Ao final da noite de terça-feira, emitiu um novo comunicado referindo que não há motivos para deixar os aparelhos em terra.
O presidente norte-americano também se pronunciou sobre o assunto. Donald Trump, de acordo com The Week, escreveu no Twitter que os aviões “estão a tornar-se muito complexos para voar” e que “já não são necessários pilotos, mas sim cientistas de informática do MIT”.
O Presidente dos EUA acrescentou que não queria que o físico Albert Einstein fosse seu piloto.
O senador Richard Blumenthal, segundo o Observador, enviou uma carta aos CEOs das companhias americanas American Airlines, Southwest Airlines e United Airlines a pedir para que não deixem voar os seus Boeing 737 MAX 8 até que a FAA obtenha respostas.
Na missiva, Blumenthal escreveu: “A indústria aeronáutica americana tem uma longa história de segurança e excelência, em parte graças à confiança que os passageiros e familiares podem depositar nas transportadoras aéreas e operadoras”.