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Grupo anónimo gastou 390 mil euros para promover “Hard Brexit” (e não se sabe de onde vem o dinheiro)

Novas regras de transparência do Facebook permitem saber que uma entidade denominada Britain’s Future já pagou, desde novembro, mais de 390 mil euros para promover posts a exigir o Brexit.

“Não os deixes roubar o Brexit!” é um dos motes da campanha levada a cabo pela entidade Britain’s Future , que promoveu milhares de publicações e anúncios no Facebook e Instagram nos últimos meses a defender o Hard Brexit ou No Deal Brexit – saída da UE sem acordo” – pelos quais pagou, de acordo com o Facebook, mais de 390 mil euros nos últimos quatro meses, fazendo dela o grupo que mais dinheiro gastou em anúncios políticos desde que o Facebook começou a revelar esses dados, em outubro.

Só na primeira semana de março, o Britain’s Future gastou mais de 50 mil euros. A partir de janeiro, o site promoveu centenas de publicações a identificar representantes eleitos do Partido Trabalhista e os respetivos emails, apelando a que fossem pressionados para votar a favor do Brexit.

De acordo com uma investigação do Buzzfeed News, o Britain’s Future conseguiu chegar a eleitores de mais de 240 círculos e os seus anúncios foram potencialmente vistos mais de 70 milhões de vezes.

Contudo, não se sabe quem está por trás desta operação. Na página do Britain’s Future, que tem um relógio que conta os dias, horas, minutos e segundos até ao Brexit, encontra-se, na secção “quem somos”, uma curtíssima apresentação na qual se identifica uma pessoa, Tim Dawson, como jornalista e como alguém que trabalha no site, e quer “contributos” para o alimentar. Dawson identifica-se como tal na sua conta de Twitter, que tem 15500 seguidores.

Dawson diz que os que defendem o Remain (permanecer na UE) “estão a tentar reescrever a língua inglesa. Quem defende o Brexit é “extremista”, “ultra”, “fanático”. Quem defende o Remain é “centrista”, “moderado”. Mas na verdade há apenas “democratas” – que querem o resultado do referendo respeitado – e “anti-democratas”, que não querem.”

Segundo o Buzzfeed, Dawson tem 30 anos, vive em Manchester e é um jornalista e escritor freelance que apoia o partido conservador. Foi candidato por aquele partido às eleições autárquicas em Manchester, num círculo de pendor trabalhista. Escreveu para um programa de comédia na BBC Three quando ainda adolescente e colaborou esporadicamente com o jornal Daily Telegraph.

Mas Dawson tem recusado responder a perguntas de jornalistas sobre o financiamento do Britain’s Future ou quem está por trás da campanha, mas terá dito aos membros de um grupo de apoiante que tomou conta do site no início de novembro – nove meses após ser criado e um ano após a página de Facebook aparecer. Em novembro, tinha dito à BBC que estava a custear os anúncios com contributos de “amigos e outros defensores”.

Os especialistas e estrategas em campanhas disseram que era improvável – “senão impossível” – que Dawson tivesse conseguido obter tanto dinheiro sem grandes financiadores por trás.

Tendo em conta a carreira e background da pessoa em questão, é muito pouco provável que tenha a capacidade, conexões e recursos financeiros para orquestrar uma campanha desta magnitude sem ajuda. Segundo o The Guardian, mesmo a campanha anti-Brexit para um segundo referendo, que é financiada pelo bilionário George Soros, gastou menos no Facebook que o Britain’s Future.

O site do Britain’s Future indica ainda um endereço de e-mail para envio de textos e propostas de colaboração e, logo de seguida, vem o pedido de donativos através do sistema Paypal. Não há número de telefone nem morada, e de acordo com o Buzzfeed, o site não está registado em qualquer dos reguladores britânicos.

O site só teria de se registar na Comissão Eleitoral e revelar as suas fontes de financiamento se estivesse a decorrer uma campanha eleitoral ou para um referendo. Não sendo o caso, não está a violar quaisquer regras.

O deputado conservador Damian Collins, que preside ao comité parlamentar para o digital, media e cultura, disse, segundo o Diário de Notícias, que é preciso “expor estas redes obscuras que bombardeiam as pessoas com dark ads. O facto de Britain”s Future poder gastar tanto em anúncios no Facebook e sabermos tão pouco sobre quem está por trás dele demonstra que atual política de transparência do Facebook não é suficiente.”

As atuais regras do Facebook impõem que alguém representando o Britain”s Future indique um endereço postal válido, mas essa informação não é tornada pública. Não existe qualquer obrigatoriedade de certificar de onde vem o dinheiro.

ZAP //

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