Uma equipa internacional de cientistas vai tentar decifrar a fórmula química do odor da felicidade e do medo nos próximos cinco anos.
Um grupo de investigadores do ISPA – Instituto Universitário, coordenada pelo investigador Gün Semin, vai participar na primeira etapa do projeto que quer sintetizar artificialmente o cheiro da felicidade e do medo para “influenciar” comportamentos.
Segundo o Público, a recolha dos cheiros característicos destas emoções, que se vai tentar descodificar e imitar, vai ser realizada em Lisboa com um grupo de homens e mulheres que vão participar em experiências cuidadosamente planeadas.
Há já algum tempo que Gün Semin se dedica ao estudo do contágio de emoções através dos cheiros ou, mais precisamente, pelo suor corporal. Aliás, o psicólogo já tinha demonstrado, em 2012, que o suor de uma pessoa que sentiu medo ou nojo produzia a mesma emoção nas pessoas que cheiram esse odor. Em 2015, mostrou que a mesma coisa acontece com a felicidade.
Agora, o desafio tem outro nome: POTION, uma sigla que corresponde à promoção da interação social através de odores corporais ligados a emoções. O trabalho recebeu um financiamento de mais de 6,5 milhões de euros da Comissão Europeia no âmbito de um programa de apoio a projetos inovadores e novas tecnologias chamado FET Proactive.
Esta iniciativa integra um consórcio internacional com dez parceiros de oito países, coordenado por uma equipa da Universidade de Pisa (Itália), mas a equipa de Gün Semin em Portugal terá um papel decisivo.
Por um lado, os cientistas vão analisar os sinais químicos que são transmitidos pelos humanos para identificar as moléculas que são libertadas quando sentimos medo ou felicidade. Quando já tiverem descoberto o código químico do cheiro da felicidade, será o momento de usar os resultados para sintetizar artificialmente estes sinais químicos.
No entanto, apesar de já se ter observado o efeito “contagioso” do odor corporal do medo, do nojo e da felicidade, a tarefa de decifrar e sintetizar artificialmente estes sinais químicos que agora é proposta pelo POTION é uma tarefa muito diferente.
É verdade que o suor é distintivo de cada pessoa, contendo uma série de informações além da emoção do sujeito, tais como características lineares como a idade ou o sexo. O que o POTION quer fazer é maximizar o aspeto das emoções.
Deste modo, será recolhido o suor de diferentes indivíduos e, depois da mistura de todas as amostras, os químicos esperam conseguir retirar apenas a “marca” deixada pela emoção, uma espécie de impressão digital química da felicidade. “Se serão capazes de o fazer, é outra questão”, afirma Gün Semin.
Se o conseguirem, os cientistas acreditam que pode servir para influenciar comportamentos em contextos sociais e clínicos. Usar o cheiro artificial da felicidade pode ser usado, por exemplo, para contrariar estados de depressão, fobia ou ansiedade.