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Refugiado preso numa ilha escreveu livro pelo WhatsApp (e venceu prémio literário)

Behrouz Boochani / Facebook

O jornalista iraniano Behrouz Boochani

Um jornalista e requerente de asilo detido durante anos pela Austrália recebeu, esta quinta-feira, o mais importante prémio literário do país.

Behrouz Boochani, um jornalista iraniano requerente de asilo e detido durante anos pela Austrália numa ilha do Pacífico, venceu o principal prémio literário do país. O jornalista de origem curda escreveu a obra No Friend but the Mountains: Writting from Manus Prison, através do WhatsApp, no interior do centro de detenção.

O prémio rendeu ao repórter refugiado mais de 60 mil euros. “É um sentimento muito paradoxal”, disse o autor em declarações à BBC, a partir da Ilha de Manus, localizada na Papua Nova-Guiné.

“Sinto-me muito feliz porque conseguimos ter a atenção para este problema e muitas pessoas estão conscientes disso. Por outro lado, sinto que não tenho o direito de celebrar. Tenho amigos que estão a sofrer neste lugar“, referiu.

O jornalista permanece naquela ilha remota porque ainda não está autorizado a entrar na Austrália. Para o futuro, Boochani quer “liberdade, sair desta ilha e começar uma nova vida”.

O livro foi escrito em farsi durante anos e os capítulos foram enviados em mensagens escritas para um tradutor, com recurso ao WhatsApp. “O WhatsApp é como se fosse o meu escritório. Não podemos escrever em papel porque os guardas estavam sempre a atacar e a procurar os nossos pertences”, explicou.

De acordo com a BBC, o jornalista está detido desde 2013, altura em que chegou à Austrália como requerente de asilo o que, até agora, não lhe foi concedido. “Não queria ir para a prisão no Irão e por isso deixei o país, mas a Austrália colocou-me atrás das grades durante anos.”

A viagem de barco entre a Indonésia e a Austrália não correu como planeado e foi detido por tentar entrar sem visto. A lei de imigração do país dita que quem tentar chegar à Austrália por barco em busca de asilo é detido e levado para um campo fora do país – dizem que desta forma evitam as mortes no mar às mãos de traficantes.

Atualmente, o jornalista está em Manu Island, na Papua Nova Guiné, há pelo menos seis anos, juntamente com outros 600 refugiados. Por esse motivo, não conseguiu comparecer na cerimónia de entrega da distinção.

O júri considerou a obra “uma voz testemunhal, um ato de sobrevivência. Um grito pela resistência. Um retro vívido de cinco anos de encarceramento e exílio”.

“Boochani produziu uma impressionante obra de arte e teoria crítica que escapa à simples descrição”, dizem os jurados do galardão. “É um estudo detalhado e crítico e uma descrição do que Boochani denomina como ‘Teoria da Prisão de Manus’ … Ele dá um novo entendimento tanto das ações da Austrália como da própria Austrália”.

ZAP // BBC

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