Há 565 milhões de anos, a força do campo magnético da Terra caiu para o seu ponto mais baixo e quase desmoronou completamente. No entanto, neste exato momento, o núcleo interno do planeta começou a solidificar, fornecendo uma nova fonte de energia para acionar o escudo magnético.
As camadas da Terra podem ser comparadas a um ovo cozido: a crosta da Terra é, na verdade, uma casca fina e o mando quente, mas ainda sólido, forma uma camada espessa por baixo dela. No meio existem camadas centrais, internas e externas, compostas principalmente por ferro. O núcleo interno é sólido, sendo o núcleo externo a única camada líquida.
Apesar de nunca termos visitado o núcleo da Terra, este afeta profundamente as nossas vidas. O campo magnético é produzido pela convecção do núcleo externo líquido e é esse fenómeno que orienta as nossas bússolas e nos protege dos perigosos ventos solares.
A história do campo magnético da Terra é uma grande questão, uma vez que não temos a certeza de quando o núcleo interno se solidificou.
Na verdade, existem registos geológicos do campo magnético. Segundo o ArsTechnica, minúsculos cristais de minerais magnéticos presentes no magma alinharam-se com o campo magnético da Terra antes de terem sido congelados naquele lugar. Esta informação pode ser particularmente útil na medida em que o campo magnético da Terra inverte frequentemente os pólos.
Além disso, a informação aprisionada por estes minerais foi a última peça que desvendou o mistérios das placas tectónicas, permitindo-nos descobrir onde é que cada continente esteve no passado.
Uma equipa de cientistas, liderada por Richard Bono e John Tarduno, da Universidade de Rochester, estava particularmente interessada em descobrir o quão forte era o campo magnético da Terra a partir destes registos. Assim, os cientistas arregaçaram as mangas e atiraram-se de cabeça para a investigação.
Depois de analisar rochas retiradas de Sept-Îles, no Quebec, Canadá, os cientistas descobriram um período prolongado em que o campo magnético da Terra era muito fraco – cerca de 10 vezes menos intenso do que é atualmente. Esse período de fraqueza durou 75.000 anos – muito mais do que qualquer mudança que ocorre quando os pólos invertem.
Os cientistas afirmam que a intensidade era tão baixa que o campo magnético esteve à beira do colapso. “À medida que a Terra evoluiu, a energia para dirigir a convecção diminuiu gradualmente, até um ponto crítico há 565 milhões de anos, marcado pela intensidade extremamente baixa do campo magnético”, disse Tarduno. “O crescimento no núcleo interno forneceu uma nova fonte para impulsionar a convecção e o geodínamo.”
Na prática, era necessário um grande impulso de energia para impulsionar o geodínamo (processo pelo qual o campo magnético é produzido – por correntes de ferro derretido fluindo em torno de um núcleo sólido) e impedir o colapso do campo magnético da Terra – a solidificação do núcleo fez esse papel.
“Se o geodínamo tivesse desmoronado completamente, a Terra não teria sido protegida do vento solar, o que poderia ter corroído a atmosfera e, eventualmente, roubado água do planeta”, concluiu o cientista. O artigo científico foi publicado recentemente na Nature Geoscience.