Uma equipa de investigadores criou um modelo teórico que abre caminho para prever terramotos com maior precisão. A pesquisa foi publicada na revista Physical Review Letters e teve destaque na área de comentários do editor da Science, um dos mais respeitados periódicos científicos do mundo.
A investigação publicada resolve um velho dilema das pesquisas experimentais sobre o manto inferior da Terra, camada que fica entre 600 e 2900 quilómetros de profundidade. Diversos resultados experimentais sobre a elasticidade do manto eram contraditórios, não havendo consenso absoluto. Agora, o modelo teórico desenvolvido por João Justo, professor no Departamento de Engenharia de Sistemas Electrónicos da Escola Politécnica da USP, membro da equipa da investigadora brasileira Renata Wentzcovitch, da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, uniu as duas pontas.
O modelo fornece uma base para o estudo do interior do planeta e aumenta o conhecimento científico sobre o manto terrestre, o que, por consequência, abre caminho para melhorar a precisão sobre quando e onde ocorrerá o próximo terremoto e o quão poderoso ele será.
O modelo é inovador no detalhe de características como pressão, temperatura e densidade do ferropericlase, material encontrado em alguns diamantes naturais e uma das principais substâncias que formam o manto terrestre. “Entender o funcionamento do manto, suas energias, dinâmicas e interações com as demais camadas da Terra, é fundamental para desvendar os terramotos”, diz Justo.
As placas tectónicas são as grandes culpadas pelos terremotos. São formadas por grandes porções da crosta terrestre. Mesmo que de forma lentíssima, estão sempre em movimento. “O terramoto é o tremor de terra causado pelo deslizamento de uma placa tectônica em relação a outra”, explica Justo.
Não é novidade já ser possível prever, em grandes áreas geográficas, onde há maior probabilidade de ocorrerem terramotos. A costa do Chile e da Califórnia, por exemplo, são áreas de grande risco por serem áreas de encontro de placas tectônicas.
Contudo, as melhores previsões sobre quando os terramotos vão acontecer ocorrem nas escalas de milhares de anos. “É possível dizer que haverá terremotos aqui ou ali nos próximos três mil anos, por exemplo”, diz Justo.
Parece trivial, mas tudo é feito com base em cálculos fundamentados. É que uma placa não desliza sobre a outra com facilidade. Pelo contrário. “O deslizamento só acontece depois de muita energia acumulada enquanto uma placa exerce pressão na outra, cada uma apontando para lados opostos”, diz Justo. “Hoje, conseguimos calcular a quantidade de energia acumulada, mas não sabemos dizer com precisão até onde ela vai e com que força depois de ser libertada.”
Por isso, geofísicos de todo o mundo correm para medir as ondas de terramotos que se iniciaram em regiões distantes do mundo. Ao calcular o tempo que levou para as ondas chegarem a diferentes locais, os cientistas conseguem estimar o ponto de origem do terremoto e fazer uma espécie de “tomografia” do planeta.
Justamente nesse quesito, o de descrever as transformações no manto terrestre, é que o modelo teórico formulado por Justo e seus colegas, contribui para o desenvolvimento da área de geofísica. “O nosso modelo avança na compreensão das transformações no interior do planeta para que estejamos um passo adiante, e, quem sabe, possamos prever com precisão de meses ou dias, onde um terramoto vai ocorrer.”
ZAP / MA / Agência USP Notícias