A baunilha pode ter sido usada em Israel antes da sua domesticação na Mesoamérica, segundo uma nova descoberta num túmulo da Idade do Bronze.
O monumental túmulo de pedra fica perto do palácio no qual os reis antigos governaram a cidade de Tel Megiddo, no atual norte de Israel. Mais tarde, os antigos gregos viriam a conhecer a cidade por outro nome: Armagedom.
A cidade de Tel Megiddo é um importante sítio arqueológico. Em 2016, Melissa Cradic, arqueóloga da Universidade da Califórnia, encontrou um túmulo com três mil a quatro mil anos de idade perto do palácio. Juntamente com os restos mortais de pelo menos nove pessoas, o túmulo continha decorações luxuosas e bens funerários, incluindo quatro pequenos jarros.
Quando a arqueóloga Vanessa Linares, da Universidade de Tel Aviv, analisou os resíduos orgânicos deixados no interior dos jarros, descobriu algo surpreendente: três dos quatro compostos orgânicos continham vanilina e 4-hidroxibenzaldeído, que são os principais compostos encontrados no extrato de baunilha. Os químicos encontrados são aqueles que dão sabor e aroma à baunilha.
Após Linares e os colegas descartaram outras possíveis fontes de contaminação, determinaram que o resíduo deixado nos jarros só poderia ter vindo das vagens de sementes da orquídea de baunilha.
“Isto é baseado na quantidade abundante de vanilina encontrada nos vasos que poderiam ter derivado apenas da abundante quantidade de vanilina produzida pelas vagens das orquídeas de baunilha”, escreveu Linares no resumo da sua apresentação na reunião anual da American Schools of Oriental Research.
A investigadora, de acordo com o Ars Technica, apontou três espécies como fontes mais prováveis: uma nativa da África Central, uma da Índia e uma do Sudeste Asiático.
Como uma especiaria cara e importada, os pequenos jarros de baunilha encaixam-se perfeitamente nos produtos funerários do túmulo, que incluem vasos de cerâmica e ossos decorados.
As três últimas pessoas enterradas – um homem, uma mulher e uma criança – usavam jóias ornadas em ouro, prata e bronze. O túmulo em si era um monumento de pedra numa parte elite da cidade, não muito longe do palácio. Se as pessoas enterradas dentro não eram da realeza, certamente eram ricas e importantes.
“Estes resultados lançaram uma nova luz sobre a primeira exploração conhecida de baunilha, usos locais, importância na prática mortuária e possíveis redes comerciais de longa distância no antigo Oriente Próximo durante o segundo milénio a.C”, escreveu Linares.
A descoberta mostra que Tel Megiddo tinha contacto comercial – mesmo que indireto – com locais distantes na África Oriental, na Índia ou no Sudeste Asiático, e que os antigos habitantes valorizavam tanto a baunilha que a consideravam uma oferta digna de funeral para as elites da cidade.
Por outro lado, não se sabe se a baunilha tinha um papel particular nas tradições funerárias ou se era apenas um luxo caro para incluir com jóias e cerâmicas trabalhadas. A presença de vanilina e 4-hidroxibenzaldeído também não é suficiente para revelar exatamente em que lugar do mundo a baunilha estava a ser colhida na época, como foi usada ou o que eventualmente aconteceu com a colheita.