Sim, é verdade: um quilo vai deixar de ser um quilo. Esta alteração, que entrará em vigor em abril do próximo ano, não afeta a utilização quotidiana da medida, mas sim a abordagem científica.
A titânica batalha científica que nos últimos anos colocou químicos e físicos a lutar para que um quilo seja sempre um quilo vai aparentemente chegar ao fim.
Na próxima semana, o Comité Internacional de Pesos e Medidas vai reunir-se para repensar a unidade padrão de massa. A mudança acontece depois de a medida ter revelado um desvio de 50 microgramas no padrão estabelecido internacionalmente há 129 anos, segundo avança o jornal ABC.
No final da Revolução Francesa, no século XVIII, ficou convencionado que um quilograma representaria a massa de um decímetro cúbico de água destilada a 3,98 graus, que é a temperatura em que a água tem uma maior densidade numa atmosfera de pressão normal.
Em 1875, o significado do quilograma passou além-fronteiras durante a Convenção do Metro, que aconteceu em Paris, tendo sido criado o Comité Internacional de Pesos e Medidas, de que fazem parte 18 membros, com o objetivo de garantir a uniformidade das unidades de medida.
Anos mais tarde, em 1889, surgiu a necessidade de concretizar fisicamente esta medida num formato mais simples de reproduzir. Assim nasceu o Grande Quilo, um cilindro com uma altura e um diâmetro de 39 milímetros construído 90% em platina e 10% em irídio, que representava a unidade.
Mas esta abordagem à definição das unidades de medida padrão tem um pequeno problema: os protótipos físicos, mesmo que a uma escala microscópica, tendem a perder propriedades.
Segundo o Diário de Notícias, foram ainda feitas 40 réplicas, cuja massa, com a passagem do tempo, se desviou do protótipo original guardado em Paris, existindo variações entre as diferentes réplicas, inclusive.
Durante a 26.ª Conferência Internacional de Física Atómica, que decorreu em Barcelona, o físico William Phillips, Nobel em 1997, explicou o problema, mostrando uma réplica do Protótipo Internacional do Quilograma (IPK), um cilindro de platina-irídio que define a unidade de massa do Sistema Internacional desde o século XIX: “Se eu sujar isto com as mãos, automaticamente todos vocês pesarão menos. Isto precisa de ser arranjado”.
Os cientistas que estudam a medição de grandezas vão agora redefinir as unidades de medida de massa (quilograma), corrente elétrica (ampere), quantidade de substância (mol) e temperatura (Kelvin) com base em constantes da natureza, para que estas medidas não possam continuar a variar.
A grande alteração: o quilo vai passar a ser uma medida universal, desprovida de uma unidade física que a defina. Apesar de o valor continuar a ser o mesmo, será calculado a partir da “constante de Planck“, que representa um papel crucial na física quântica.
A inspiração para uma nova definição veio do metro, medida que também é uma unidade básica no Sistema Internacional. Em 1983, o metro deixou de ser “o comprimento de uma barra de platina guardada em Paris” para passar a corresponder à “distância viajada pela luz em 1 / 299,792,458 segundos”.
Esta mudança não altera nem afeta em nada a utilização quotidiana da medida. “Na realidade não importa quanto pesa um quilo se todos trabalharmos com a mesma norma”, diz Peter Cumpson, professor de Sistemas Microeletromecânicos.
“O problema é existirem pequenas diferenças em todo o mundo. O protótipo internacional do quilograma e as suas 40 réplicas estão a crescer a um ritmo diferente, afastando-se do original”.
Esta mudança entrará em vigor em abril de 2019. Na reunião da próxima semana, do Comité Internacional de Pesos e Medidas, serão ainda revistas outras unidades como o ampere, o kelvin e o mol.
Um titulo bem mais coerente seria algo assim: “Um quilo vai deixar de ser um quilo, mas continua a ser um quilo!”
Obrigado pela sugestão.
Também poderia ser “Um quilo vai deixar de ser um quilo para ser um quilo para sempre”.
Mas de facto, “um quilo vai deixar de ser um quilo”.
Nem comento mais… já sei que me vão atirar com o Priberam….
Não, neste caso até nem íamos…
Quem comentou fui eu!…
Eu sei, e não quis “usurpar”…
Não, não vai; apenas vai deixar de ser defendido por um padrão físico, para passar a ser definido através uma constante da natureza!
Pois, constantes da natureza???? Mais que raio é isso? Se é que sabe responder…
Ok… eu citei a expressão usada no artigo, mas queria dizer “constante da fisica”!
Embora sejam conhecidas como “constantes fundamentais da fisica”, também há quem lhes chame “constantes fundamentais da natureza”!
Pois, onde se escreveu “…Na próxima semana, o Comité Internacional de Pesos e Medidas vai reunir-se para repensar a unidade padrão do peso”, provavelmente deveria estar “massa” em vez de “peso”.
verdade. Peso é uma coisa, massa é outra.
Tem toda a razão.
Obrigado pelo reparo, está corrigido.
Então vai ser quilo e meio. Ah! ah!
A unidade da quantidade de substância não é “o mol” mas “a mol” – é uma unidade do género feminino.
caso para dizer, dois pesos e duas medidas