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Derrota histórica dos aliados de Merkel põe em causa estabilidade do Governo alemão

Daniel Kopatsch / EPA

Horst Seehofer, ministro do Interior e líder da CSU

Os aliados conservadores da chanceler Angela Merkel perderam a maioria absoluta no parlamento estadual da Baviera por larga margem na eleição regional que teve lugar este domingo, um resultado que pode causar mais turbulência dentro do Governo nacional.

A União Social Cristã (CSU) obteve 37,2% dos votos, contra os 47,7% conquistados há cinco anos. Foi o pior desempenho do partido desde 1950 numa votação estadual na Baviera, que tradicionalmente dominava.

As disputas constantes no Governo nacional de Angela Merkel e a luta interna pelo poder contribuíram para o resultado do CSU, partido posicionado tradicionalmente um pouco mais à direita do que o da chanceler e que assumiu uma linha dura na migração, tendo assumido um confronto público com a chefe do Governo alemão nesta matéria.

Nas eleições de domingo, há a registar vitórias à esquerda e à direita: os Verdes garantiram o segundo lugar ao arrecadarem 17,5% dos votos, duplicando a sua base de apoio em relação a 2013, enquanto o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) assegurou 10,2% da votação.

Já os social-democratas de centro-esquerda, outro parceiro nacional de coligação de Merkel, terminaram em quinto lugar com apenas 9,7%, ou seja, com menos da metade dos votos de 2013 e o pior resultado naquele estado desde a Segunda Guerra Mundial.

A CSU governa a Baviera há mais de seis décadas, um próspero estado no sudeste da Alemanha onde vivem cerca de 13 dos 82 milhões de habitantes do país.

A necessidade de fazer coligações para governar é, por si só, um grande revés para o partido, que existe apenas na Baviera e que, à exceção de cinco dos últimos 56 anos, detinha uma maioria absoluta no parlamento estadual.

“É claro que este não é um dia fácil para a CSU”, disse o chefe do Governo daquele estado, Markus Soder, perante militantes em Munique, acrescentando que o partido aceitou o “doloroso” resultado “com humildade”. Soder disse ainda que é difícil não fazer uma leitura nacional destes resultados, mas salientou que a CSU continua a assumir-se como o partido mais forte do estado, mandatado para formar o próximo Governo da Baviera.

O governante admitiu também que a sua preferência vai para uma coligação de centro-direita com os Freie Wähler, um rival conservador local que somou 11,6% dos votos. Os Verdes, que assumem habitualmente oposição à CSU, com uma abordagem mais liberal à migração e uma ênfase nas questões ambientais, é outro parceiro possível.

O CSU alavancou durante muito tempo a sua força nos resultados estaduais para aumentar o seu peso na política nacional. Em Berlim, o partido é um dos três do Governo de coligação nacional de Merkel, juntamente com a União Democrata Cristã (CDU) da chanceler e o Partido Social-Democrata (SPD).

Revés para Angela Merkel

a perda da maioria absoluta da CSU a Baviera é mais um revés para Angela Merkel, que no mês passado viu Volker Kauder, um dos seus grandes aliados no Bundestag, perder uma votação interna e ser afastado de líder da bancada parlamentar dos conservadores.

Agora, adianta o Diário de Notícias, Merkel tem um desafio muito maior pela frente: as eleições regionais em Hesse, no dia 28 de outubro. As últimas sondagens dão uma vantagem de apenas seis pontos percentuais à CDU, com o SPD em segundo com 23% e os Verdes em terceiro, com 18%.

“Estas duas eleições afetarão a política nacional e, consequentemente, a reputação da chanceler”, avisou na sexta-feira Wolfgang Schäuble, presidente do Bundestag e veterano da CDU.

No último mês do ano, Merkel enfrenta a corrida à reeleição como líder da CDU. Há 18 anos à frente do partido, a chanceler não tem tido um caminho fácil desde que abriu as portas do país a mais de um milhão de refugiados, em 2015.

Esta decisão teve como consequência um aumento da força da extrema-direita nas legislativas de setembro de 2017.

ZAP // Lusa

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