Investigadores identificaram as melhorias que o planeta precisa para alimentar de forma sustentável a população humana em expansão.
“Sem uma ação eficaz, os impactos ambientais do sistema alimentar podem aumentar entre 50% a 90% até 2050”, afirmou Marco Springmann, especialista em sustentabilidade ambiental e saúde pública da Universidade de Oxford que liderou a pesquisa.
“Nesse caso, todas as fronteiras planetárias relacionadas com a produção de alimentos seriam superadas, algumas delas em mais do dobro”, acrescentou à Discover Magazine.
Segundo o estudo publicado a 10 de outubro na revista Nature, a população terrestre aumentará tanto nos próximos 30 anos que esgotará a capacidade do planeta para cultivar alimentos suficientes.
À medida que as nações em crescimento começarem a comer mais – como já acontece no mundo ocidental – haverá uma intensificação dos impactos ambientais.
O sistema alimentar global estimula as mudança climatéricas, altera as paisagens e impulsiona a escassez de recursos.
Para tentar reverter o panorama futuro, Springmann estudou as opções possíveis para evitar uma crise mundial.
Para isso, Springmann e os seus colegas investigadores construíram um modelo para entender o impacto do sistema alimentar nos cinco principais setores ambientais: emissões de gases de efeito de estufa, uso de terras agrícolas, uso de água doce e aplicações de nitrogénio e de fósforo.
O modelo criado pelos investigadores recria a produção de alimentos, o processamento e as necessidade de alimentação para 62 produtos agrícolas de 159 países, juntamente com pegadas ambientais específicas de cada país.
Panorama e situação atual
De acordo com a equipa, em 2010, o sistema mundial de alimentos emitiu cerca de 5,2 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono e ocupou cerca de 12,6 milhões de quilómetros quadrados de terras cultivadas (uma área maior do que os EUA).
No cultivo das terras foram ainda usados 1,810 quilómetros cúbicos de água doce e 104 teragramas de nitrogénio – algo como 300 mil aviões Boeing 747 – e 18 teragramas de fertilizantes fosfatados.
Com estes dados apresentados e a estimativa de que a população global crescerá cerca de um terço para quase 10 mil milhões até 2050, as expetativas não são as melhores.
Segundo o estudo, este aumento da população mundial, combinado com a triplicação da renda global, pressionará ainda mais o sistema alimentar elevando o impacto das catástrofes mundiais nos setores alimentares entre 50% e 92%.
A solução sustentável
Para os investigadores, a produção de alimentos de origem animal é responsável por quase três quartos do total das emissões e é tão intensa e prejudicial para o ambiente que os cientistas propõe mudar as dietas para incluir menos carne e mais grãos, nozes, legumes, verduras e frutas.
Esta alteração no consumo de carne proporcionaria um alívio para todo o sistema global alimentar e ainda ajudaria a aumentar o índice de saúde mundial. Os investigadores recomendam ainda reduzir o desperdício de alimentos e melhorar as práticas agrícolas.
Em relação ao desperdício alimentar, segundo o estudo, mais de um terço de toda a comida produzida é perdida antes de chegar ao mercado ou é desperdiçada pelo consumidor final. Segundo o relatório, uma redução pela metade do desperdício de alimentos diminuiria o impacto ambiental do sistema alimentar em 16%.
Quanto à proposta da melhoria das práticas agrícolas, o estudo fala em aumentar a rentabilidade, reciclar o fósforo e utilizar as águas das chuvas de maneira mais eficiente para reduzir as tensões do sistema alimentar sobre o meio ambiente em 30%.
“Não há uma solução única suficientemente eficaz para evitar ultrapassar fronteiras planetárias”, disse Springmann. “Mas quando várias soluções são implementadas em conjunto, a nossa pesquisa indica que pode ser possível alimentar a população em crescimento de forma sustentável”.