A Ordem dos Médicos Dentistas apela à criação de uma carreira para os dentistas no Serviço Nacional de Saúde, lembrando que o processo já foi aprovado pelo Ministério da Saúde, mas que aguarda há quase um ano pelas Finanças.
Em entrevista à agência Lusa, o bastonário Orlando Monteiro da Silva estimou que durante o próximo ano possa haver dentistas em cerca de uma centena de centros de saúde, quando atualmente existem em 55 unidades, mas recordou a necessidade de criar uma carreira para estes profissionais além de os colocar no SNS.
“Além de integrar médicos dentistas no Serviço Nacional de Saúde importa que eles sejam integrados com a estabilidade e com o enquadramento que só uma carreira específica de medicina dentária pode dar”, afirmou o bastonário.
A Ordem reclama um “estatuto adequado” para estes profissionais, consagrado através de uma carreira, cujo projeto já foi aprovado pelo Ministério da Saúde.
“Está à espera, como muita coisa, de autorização do Ministério das Finanças, para que os médicos dentistas não sejam contratados de forma relativamente precária, mas antes ter uma carreira própria dentro do Serviço Nacional de Saúde”, indicou.
Para o representante dos dentistas, a estabilidade destes profissionais é importante também para os utentes: “Não estamos a falar de centenas ou de milhares como se falam noutras profissões, estamos a falar de cerca de 100, 150 médicos dentistas que, de forma controlada, se tiverem a sua carreira, são muito mais produtivos e muito mais eficazes no atendimento à população do que se a não tiverem”.
Para 2019, o bastonário espera ainda “a concretização da bandeira do Governo” de continuar a integração da medicina dentária no SNS, alargando o número de centros de saúde com cuidados de saúde oral e tendo todos os agrupamentos de centros de saúde com consultórios de medicina dentária.
A colocação de dentistas nos cuidados de saúde primários iniciou-se com o atual Governo, primeiro através de projetos piloto que foram sendo progressivamente alargados. O secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, tem anunciado que o objetivo é ter dentistas em todos os agrupamentos de centros de saúde durante próximo ano.
Fernando Araújo também já disse publicamente que a Saúde propôs às Finanças a criação de uma carreira do médico dentista no SNS, explicando que esta recomendação partiu de um grupo de trabalho nomeado pelo Governo para analisar o enquadramento da atividade dos dentistas nos serviços públicos.
Duplicaram os dentistas emigrados em 10 anos
O número de dentistas portugueses a trabalhar no estrangeiro duplicou nos últimos dez anos, num país que já tem quase o dobro de profissionais em relação às recomendações da Organização Mundial da Saúde.
Segundo o estudo “Números da Ordem”, promovido pela Ordem dos Médicos Dentistas, Portugal atingiu no ano passado um rácio de um médico dentista por 1.033 habitantes, que é praticamente o dobro do que é recomendado a nível internacional.
“Nota-se que há um aumento de emigração. Isto vem desde há cerca de 15 anos, mas acentuou-se no período de crise económica, a partir de 2008/2009”, afirmou o bastonário dos Médicos Dentistas.
Reino Unido, França, Suíça e vários países da Escandinávia são os que atraem dentistas portugueses, oferecendo melhores condições salariais e de exercício profissional.
Segundo os dados da Ordem, haverá cerca de 1.500 a 2 mil médicos dentistas portugueses a exercer no estrangeiro.
“Em contrapartida, em Portugal há dificuldade de os médicos dentistas encontrarem colocação”, refere o bastonário, sublinhando uma “dificuldade crescente de inserção no mercado de trabalho”, numa profissão essencialmente liberal e que tem ainda escassa expressão no Serviço Nacional de Saúde.
ZAP // Lusa