Uma equipa de cientistas identificou recentemente mais de 1.200 diferenças em genes que ajudam a explicar o nível de educação que alcançámos.
As mais recentes descobertas lançam agora uma nova luz sobre o papel da genética no que diz respeito ao comportamento humano. Uma equipa de cientistas norte-americana analisou a composição genética e a história educacional de mais de 1,1 milhão de pessoas de 15 países europeus, com 30 anos ou mais, e fez descobertas surpreendentes.
Os investigadores encontraram 1.271 variantes genéticas relacionadas com os anos de permanência na escola, isto é, a quantidade de anos que passamos sentados na sala de aula parece ter influência genética. Apesar de os fatores externos e sociais desempenharem um papel crucial nesta questão, os cientistas sublinham que o ADN também é determinante.
As variantes genéticas não conseguem prever com toda a certeza o sucesso com que um indivíduo irá completar o seu percurso escolar, mas os resultados deste estudo podem ser bastante úteis em investigações futuras no âmbito das ciências sociais, que se concentram no comportamento da população.
Os cientistas descobriram que muitas das variantes afetam genes ativos nos cérebros de fetos e bebés que têm um impacto significativo na criação de células cerebrais e na forma como reagem a novas informações – o que irá afeta a psicologia de um indivíduo.
Daniel Benjamin, professor do Centro de Investigação Económica e Social da Universidade do Sul da Califórnia e um dos autores do estudo, esclarece que o nível de escolaridade é um fenómeno demasiado complexo. “Esta investigação foca apenas uma pequenina parte de um grande retrato”, afirma, citado pelo Independent.
“Não encontramos ‘o gene da escolaridade’. Em vez disso, identificamos muitas variantes genéticas que estão associadas. Embora se acredite que a ciência irá descobrir inúmeras associações entre genes e resultados educacionais, a grande maioria dos traços humanos é complexa e influenciada por muitos – talvez milhões – de genes que, sozinhos, tendem a influenciar muito pouco um resultado muito relevante”, explica o cientista.
O estudo, publicado recentemente na Nature Genetics, refere que, quando combinadas, “as 1.271 variantes explicam 11 a 13% da variação dos anos de escolaridade dos indivíduos, o mesmo valor percentual atribuído a fatores sociais, como o nível educacional da mãe, por exemplo.
No entanto, ter uma baixa “pontuação poligénica”, como lhe chama o co-autor Robbee Wedow, não significa que essa pessoa não irá alcançar um alto nível de habilitação académica. A ambição do próprio indivíduo, o ambiente familiar, o status socioeconómico e outro tipo de fatores desempenham um papel muito mais preponderante do que os genes.
“O que interessa é a interação complexa entre o ambiente e a genética“, adianta Wedow. Ainda assim, este estudo ajuda a obtermos uma “compreensão um pouco mais clara da arquitetura genética de traços complexos do comportamento, como é o caso da realização educacional”.
É importante ressalvar que os genes não influenciam diretamente a escolaridade. “As variantes que identificamos tendem a ser especialmente ativas no cérebro e estão envolvidas no desenvolvimento neural e na comunicação entre os neurónios”, explicam os cientistas.
Assim, o poder preditivo dos genes no que diz respeito ao nível de escolaridade pode ser resultado de um longo processo, que começa com o desenvolvimento do cérebro, seguido dos traços psicológicos, habilidades cognitivas e até personalidade.
“Todos esses fatores podem interagir com o ambiente circundante. Esses traços, comportamentos e experiências podem influenciar, mas não determinar, a escolaridade”, conclui Daniel Benjamin.