Quando os soldados são feridos em pleno campo de batalha, nem sempre há recursos médicos imediatos para os socorrer. E muitas vezes, o tempo é um factor fundamental para lhes salvar a vida. É a pensar nisso que a DARPA, a Agência de Pesquisa Avançada de Defesa dos EUA, pretende “congelar” o metabolismo de soldados em risco de vida.
Perante os problemas de atendimento médico que se podem sentir durante combates militares, cientistas da DARPA – Defense Advanced Research Projects Agency, agência norte-americana que se dedica ao desenvolvimento de novas tecnologias para apoio aos militares (e que inventou a infraestrutura em que se baseia a Internet), estão a tentar encontrar soluções para responder a esse desafio.
Mas não pretendem agilizar o atendimento médico. Em vez disso, querem “congelar” o tempo, fazendo parar o corpo dos soldados em risco de vida.
O novo programa da DARPA, intitulado “Biostasis”, visa “retardar as reacções bioquímicas dentro das células”, induzindo o corpo a permanecer numa espécie de estado suspenso, uma hibernação, até que chegue a ajuda médica, conforme explica a agência num comunicado.
A ideia é “alavancar a biologia molecular para desenvolver novas formas de controlar a velocidade a que os sistemas vivos operam, e assim, estender a janela de tempo após um evento prejudicial, e antes do colapso de um sistema”, sustenta a DARPA.
Falamos, basicamente, de “atrasar a vida para a salvar”, como salienta a agência que tem como “fonte de inspiração” os tardigrada, também conhecidos como ursos d´água.
Estas criaturas microscópicas podem sobreviver em condições de extrema radiação e de congelação, e transformam-se em vidro para sobreviver à desidratação. A sua extraordinária capacidade de sobrevivência deve-se ao facto de entrarem num estado conhecido por criptobiose, em que o metabolismo deixa de funcionar, embora o corpo continue vivo.
A DARPA pretende replicar aquele fenómeno nos processos bioquímicos das células, retardando o metabolismo.
“A nível molecular, a vida é um conjunto de reacções bioquímicas contínuas, e uma característica definidora destas reacções é que precisam de um catalizador para ocorrerem”, explica McClure-Begley. “Dentro de uma célula, estes catalizadores surgem na forma de proteínas e de grandes máquinas moleculares que transformam a energia química e cinética em processos biológicos”, acrescenta o director do “Biostasis”.
O objectivo da DARPA é “controlar essas máquinas moleculares e conseguir que todas abrandem o seu papel, aproximadamente na mesma medida”, para conseguir “retardar todo o sistema graciosamente, evitando consequências adversas quando a intervenção for revertida ou desaparecer”, nota McClure-Begley que é citado no comunicado da DARPA.
Mas para chegar a esse cenário, há ainda um longo caminho a percorrer. Primeiro, será preciso conseguir retardar os processos bioquímicos em células e tecidos. E depois, será necessário transpor esse conceito para a escala de um organismo completo, de modo a atrasar todas as funções biológicas mensuráveis de um sistema, sem danificar processos celulares no regresso ao estado normal.
Está previsto que o programa dure cinco anos. Espera-se que a futura tecnologia possa também vir a ser usada para prolongar o tempo de vida de produtos sanguíneos ou de reagentes biológicos e de medicamentos.
Estamos comovidos com tamanha caridade da darpa, pois ela preocupa-se afinal tanto com a carne para canhão. Quase me vieram as lágrimas aos olhos.