A jornalista Nazanin Zaghari-Ratcliffe, que tem dupla nacionalidade britânica e iraniana, está presa no Irão há 683 dias, acusada de espionagem. O marido diz que está a ser vítima de tortura e apela às Nações Unidas para intercederem pela sua libertação.
Nazanin Zaghari-Ratcliffe foi detida em Teerão quando se preparava para voltar para o Reino Unido com a filha bebé, após uns dias de férias com os pais que vivem no Irão.
A jornalista da Reuters foi acusada de espionagem e está detida há 683 dias em condições de tortura, acusa o seu marido, Richard Ratcliffe, numa carta enviada às Nações Unidas onde apela à organização para agir em prol da liberdade de Nazanin.
Richard Ratcliffe descreve o que define como um “catálogo de abusos”, notando que a mulher tem apresentado problemas que vão desde as dificuldades em andar, respirar e falar, até ataques de pânico e stress pós-traumático.
O britânico refere que Nazanin foi mantida em isolamento na solitária durante mais de 8 meses, numa cela com um metro e meio de largura, “sem janela e sem luz natural ou ar”, cita o The Independent.
“A única altura em que lhe era permitido sair da cela era para os interrogatórios”, conta Richard.
O marido fala também da pressão psicológica de que Nazanin é alvo, frisando que não lhe deixaram ver a família durante 37 dias, nem sequer a filha de 21 meses, numa altura em que ainda estava a amamentá-la.
“Disseram-lhe repetidamente que o marido a tinha abandonado e que lhe era infiel”, acrescenta Richard.
Em virtude deste quadro, a sua “saúde física e psicológica deteriorou-se bruscamente”, apresentando “dificuldade em andar” e “o cabelo começou a cair”, como relata o marido.
Quando a família a pôde visitar, em Maio do ano passado, Nazanin estava tão fraca que “não conseguiu levantar-se da cadeira sem ajuda”, diz ainda Richard.
Richard conta também como a gafe do secretário dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Boris Johnson, que foi ao Irão para tentar negociar a libertação da jornalista, complicou a sua situação.
O governante disse que a repórter tinha ido ao Irão para treinar jornalistas, o que levou as autoridades iranianas a aproveitarem esse dado para reforçarem a tese de que era uma espia, com várias notícias divulgadas na televisão nacional que levaram Nazanin a sofrer ataques de pânico na prisão, diz Richard.
O marido da jornalista acusa as autoridades iranianas de estarem a usá-la como “moeda de troca” para recuperarem 506 mil euros de uma dívida que remonta à década de 1970, no âmbito de um contrato de armamento assinado pelo Reino Unido antes da revolução iraniana de 1979.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano tem insistido que a jornalista está a ser tratada de forma justa, “de acordo com o devido processo judicial”, cita o jornal britânico.
A May num acto de solidariedade propôs a troca da jornalista por ela.