Uma Pequena Idade do Gelo está iminente? O paleoclimatólogo Armand Hernandez afirma que não. O efeito de aquecimento de gases de efeito de estufa é um dos motivos que explica o facto de a Terra estar a aquecer.
Uma equipa de 22 cientistas escreveu um artigo sobre algumas das consequências da Little Ice Age (LIA), conhecida como Pequena Idade do Gelo, o último grande evento frio do hemisfério norte.
O artigo, publicado na Earth-Science Reviews, intitulado “The Little Ice Age in Iberian mountains” (“A Pequena Idade do Gelo nas montanhas da Península Ibérica”), é o mais detalhado no que diz respeito à intensidade e duração do processo de arrefecimento que aconteceu entre 1300 e 1850 na Península Ibérica.
“Concluímos que as temperaturas eram, em média, aproximadamente 1° C mais baixas do que as registadas em 1850 e aproximadamente 2° C mais frias do que os valores que se verificam hoje”, disse ao jornal i o paleoclimatólogo Armand Hernandez.
Hernandez, investigador do Instituto Dom Luiz (IDL) da Faculdade de Ciências da Universidade Lisboa (FCUL) e um dos autores no estudo, explicou que o processo para obter os resultados finais foi complicado e que a equipa usou centenas de documentos – antigos e recentes – e artigos anteriormente publicados.
Foi desta forma que a equipa chegou à conclusão de que as principais causas para estas quedas de temperatura relacionam-se principalmente com erupções vulcânicas e reduções de irradiação solar.
Esses fatores “determinaram os modelos de circulação atmosférica dominantes sobre a Europa Ocidental e, consequentemente, da Península Ibérica”, explicou ao jornal.
Como revela o artigo científico, a Pequena Idade do Gelo provocou inúmeros impactos na sociedade sentidos de maneira diferente em contextos rurais e em ambientes urbanos. Mas será que está para breve uma nova Idade do Gelo? Hernandez diz que não.
As alterações no clima são sequências das mudanças na órbita e na inclinação da Terra. “Ambos afetam a quantidade de luz solar que no verão chega ao hemisfério norte”, fazendo com que, quando essa quantidade diminui, o degelo seja menor e os lençóis de gelo comecem a crescer.
Por sua vez, “a luz refletida para o Espaço aumenta, aumentando também a tendência de arrefecimento”. E é neste contexto que uma nova Idade do Gelo surge.
De acordo com o paleoclimatólogo, as alterações verificadas na órbita e na inclinação da Terra indicam que o nosso planeta devia estar a arrefecer. No entanto, não é isso que está a acontecer. “O efeito de aquecimento do CO2 e de outros gases de efeito de estufa” é mais intenso do que o efeito de outros fatores de ordem natural.
Esta é uma das principais razões para o planeta não estar a arrefecer como deveria. “Sem interferência humana, a órbita e a inclinação da Terra, a ligeira diminuição da luz solar desde a década de 1950 e a atividade vulcânica teriam levado a um arrefecimento global”, refere Hernandez ao jornal i.
Porém, em vez de diminuir, as temperaturas estão definitivamente a aumentar. É por esse motivo que o cientista afirma que um regresso a uma Idade do Gelo “parece muito improvável”.