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Vítimas dos fogos de outubro “rigorosamente abandonadas”

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Miguel A. Lopes / Lusa

Duas associações de vítimas dos incêndios de outubro de 2017, na região Centro, criticam a alegada distância do poder central e asseguram que milhares de lesados ainda não receberam ajudas.

Ao assinalar “três meses da maior tragédia em destruição material que a região sofreu em séculos”, a Associação das Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal, AVMISP, insurge-se contra “a distância do poder político”, quando “a falta de esperança cresce” no interior devastado pelos fogos de 15 e 16 de outubro de 2017.

“Sobra sempre a sensação de que continuamos entregues à nossa sorte”, afirma à agência Lusa o empresário Luís Lagos, presidente da AVMISP, com sede em Oliveira do Hospital. Opinião idêntica tem o Movimento Associativo de Apoio às Vitimas dos Incêndios de Midões, MAAVIM, no vizinho município de Tábua, liderado por Fernando Tavares Pereira.

Numa nota enviada à Lusa, o empresário de Midões reitera que “a população está rigorosamente ao abandono, com medidas avançadas e sem estarem aplicadas”, e reporta a existência de “milhares de lesados ainda sem ajuda”.

“São empresas que lutam para voltar à normalidade e encontram discriminação nos apoios, pessoas que querem reconstruir a sua casa, as suas vidas, e a quem falta proximidade e celeridade do poder executivo”, declara, por sua vez, Luís Lagos.

O líder da AVMISP testemunha queixas dos “agricultores que ficam embrulhados em burocracia” e adianta que a população “tem a sensação de que vive num país onde o Governo está de férias para o Interior”.

A associação pergunta “por que não se pagou, de imediato e sem burocracias, o valor indemnizatório mínimo aos familiares das vítimas mortais” e realça que, “se algum familiar não concordar com o valor final da indemnização e quiser recorrer aos tribunais, continuará a não receber o valor mínimo de 70 mil euros”, anunciado pelo Estado.

Isto não passa de uma forma encapotada de pressão” para levar as pessoas a aceitar esse valor, considera Luís Lagos, realçando ser “todo um território que fica em causa, um conjunto de vidas que ficam hipotecadas e uma região que perde o comboio do futuro”, se o Governo não promover “a discriminação positiva” de municípios do Interior “que todos os dias pagam o preço da distância” do poder central.

Questiona ainda, entre outras críticas, “onde está o Fundo Revita para a tragédia de outubro”, lembrando que, “se as ajudas dos portugueses, em junho”, com o incêndio de Pedrógão Grande, “mereceram a criação de um fundo para as fazer chegar de forma justa e equitativa ao terreno, em outubro é a bandalheira total”.

Por outro lado, “a diferenciação ao nível da comparticipação do apoio às empresas, entre os incêndios de junho e de outubro, é gravíssima”, na sua opinião. Por seu turno, o MAAVIM insiste que “ainda não existe um único parque de recolha” de madeira queimada e alerta que “os rios estão cheios de lixo e lama”.

Cinco pessoas ainda recuperam nos hospitais

Cinco feridos dos incêndios de outubro na região Centro continuam internadas no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, com queimaduras extensas de 2º e 3º grau, disse à agência Lusa fonte hospitalar.

Trata-se de quatro adultos e uma criança que não correm risco de vida, mas que apresentam lesões “muito complicadas de tratar” e, por isso, “bastante morosas”. “Dois dos adultos e a criança ainda estão entubados e ventilados e assim vão manter-se”, acrescentou. As extensas lesões no corpo obrigam os feridos a deslocarem-se ao bloco operatório “uma a duas vezes por semana”.

A fonte hospitalar adiantou que três dos feridos adultos estão internados no serviço de queimados e outro no serviço de cirurgia plástica do polo do Hospital da Universidade de Coimbra, enquanto a criança se encontra no serviço de queimados do Hospital Pediátrico.

Os incêndios de 15 e 16 de outubro de 2017 atingiram particularmente 27 concelhos da região Centro e provocaram 45 mortos e cerca de 70 feridos, destruíram total ou parcialmente cerca de 800 habitações permanentes e cerca de outras tantas casas de segunda habitação, quase 500 empresas e extensas áreas de floresta.

// Lusa

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