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João Lourenço é o novo Presidente de Angola (com muita polémica à mistura)

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A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) anunciou os resultados provisórios com o MPLA a liderar com 61,7% dos votos. Em Angola, e depois de o partido ter lançado foguetes antes da festa, ainda na quinta-feira, a festa está em suspenso, com muita polémica à volta do ato eleitoral.

Nos primeiros resultados provisórios, o MPLA ganhava com 64,57% dos votos. Os segundos resultados, conhecidos na manhã desta sexta-feira, continuam a dar a vitória ao MPLA, mas já só com 61,7%, adianta o Observador.

Numa altura em que já terão sido contados 97,8% dos votos, é certo que João Lourenço será o novo presidente de Angola, pondo fim a um ciclo ininterrupto de 38 anos de José Eduardo dos Santos.

Os números inicialmente apresentados foram contestados por técnicos e comissários da CNE que alegaram não se rever nos resultados divulgados, já que, segundo afirmaram, não foram chamados, como é sua função, a escrutinar os votos.

“Não nos revemos na comunicação da CNE porque não foi feita com base nos preceitos legais, nem participamos na produção daqueles resultados. Com base na lei, cabe à CNE congregar os resultados eleitorais apurados por cada uma das candidaturas nas mesas de voto, com base nas informações fornecidas pelas comissões provinciais eleitorais que são os órgãos locais da CNE. Nenhuma comissão se reuniu para produzir os resultados que foram anunciados. Aqui estão membros da coordenação técnica do centro de escrutínio e eles não participaram na produção daqueles resultados”, referiu o porta-voz do grupo, o comissário da UNITA, Cláudio da Silva.

Os técnicos que contestaram o resultado estariam em representação da coligação CASA-CE e da UNITA, as duas maiores forças da oposição ao MPLA. Ainda assim, frisaram, falavam na qualidade de técnicos e não em representação dos partidos políticos a que pertencem.

Foi também apontado pela oposição que a soma das percentagens obtidas por todos os partidos – ao todo, concorreram seis listas – ultrapassava os 100%. Era, mais propriamente, 100,37%, o que é matematicamente errado.

Quando aos segundos resultados, os que dão ao MPLA uma vitória com 61,7% dos votos, não foram contestados até ao momento.

Durante o dia de quinta-feira, antes ainda de saírem os primeiros resultados oficiais da CNE, o partido do MPLA já lançava os foguetes anunciando uma maioria qualificada.

Com cinco milhões de votos escrutinados em todo o país, o partido do ainda presidente José Eduardo dos Santos assegurou, na altura, uma “maioria qualificada” e a eleição de João Lourenço para Presidente da República.

A informação foi transmitida, pelas 11h50 de quinta-feira, na sede nacional do Movimento Popular de Libertação de Angola, em Luanda, pelo secretário do Bureau Político, para as questões políticas e eleitorais, João Martins, em declarações aos jornalistas.

No entanto, depois de muita contestação pela oposição e até pelos técnicos da CNE que, à data, nem tinham ainda divulgado os resultados, a festa ficou em suspenso.

Luanda “deserta”

Quem vive em Luanda, a capital de Angola, sabe que a cidade não é a mesma por estes dias. Ao Diário de Notícias, uma jovem que preferiu guardar o anonimato explicou que a cidade esteve “deserta” nos últimos dois dias.

A jovem, como muitos outros da cidade, fez compras para cinco dias. “No caso de qualquer eventualidade”, explicou. “Sabemos que a paz vai continuar, mas é a primeira vez que mudamos de presidente ao fim de tantos anos. Há algum receio”. E é esse receio que leva as pessoas a refugiarem-se em casa.

Muito antes do dia da eleição, as famílias abasteceram-se de massas, arroz, latas de atum, algumas trataram também de encher os depósitos de combustível. Algumas empresas pagaram os salários mais cedo, revela a jovem de 25 anos, que não para de receber chamadas de familiares que vivem fora do país. “Querem saber se está tudo bem, se há novidades. As pessoas estão muito ansiosas”.

A trabalhar em Luanda, a jovem diz estar “presa à televisão e às redes sociais, com o rádio sempre ligado”, à espera de notícias, por se tratar de uma “eleição histórica, que encerra um capítulo e começa outro”.

O novo capítulo será de “provações”, uma certeza partilhada pelos amigos da mesma idade, que lhe chamam a “fase da peneira”. Este “é o tempo dos angolanos competentes e com formação se afirmarem, de Angola deixar de estar dependente do petróleo, de terminar ou pelo menos reduzir a corrupção”.

Seja quem for o Presidente, “terá uma tarefa árdua” e, como costumam dizer nas conversas entre amigos, “vai começar a trabalhar para as próximas eleições desde o primeiro momento”.

Agora, sabe-se, é a João Lourenço que cabe essa árdua tarefa.

ZAP //

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