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Desvendado mistério da menina morta em S. Francisco há 145 anos

(dr) Jennifer Onstrott Warner / Garden Of Innocence

Miranda Eve foi encontrada em perfeito estado de conservação

Miranda Eve foi encontrada em perfeito estado de conservação

Chegou finalmente ao fim um mistério que comoveu a cidade de San Francisco, nos Estados Unidos: a descoberta de um caixão com o corpo em perfeito estado de uma menina de três anos morta há 145 anos.

Numa cena semelhante à de um filme de terror, o caixão foi encontrado o ano passado durante o restauro de uma casa, e a menina foi baptizada de Miranda Eve. Foi até realizada uma segunda cerimónia fúnebre, à qual compareceram mais de 100 pessoas.

“Não foi fácil, mas era a coisa certa a fazer”, disse à BBC Enrique Reade, director da ONG Garden of Innocence, que enterra crianças não identificadas ou abandonadas e que assumiu a investigação do caso.

Após “mais de mil horas de investigação de 34 voluntários, que estudaram 29.982 registos de enterros, comparando mapas de 1870 e 2017, analisando registos de um cemitério que não existe, rastreando árvores genealógicas e análises de DNA, descobrimos quem foi Miranda Eve”, diz a organização no seu site.

“Miranda Eve” chamava-se na realidade Edith Howard Cook. Nascida a 28 de novembro de 1873, a menina morreu a 13 de outubro de 1876. A causa da morte foi marasmo, forma crónica de desnutrição na qual a deficiência de hidratos de carbono e lípidos, em fases avançadas, se caracteriza por perda muscular e falta de gordura subcutânea.

Edith Howard Cook tinha sido enterrada no cemitério de Odd Fellows, no distrito de Richmond, em San Francisco, que já não existe.

O caixão feito de chumbo e bronze que continha o corpo perfeitamente conservado de Edith foi encontrado em maio de 2016, durante o restaurp de uma casa construída em 1936. Segundo jornais locais, o caixão estava hermeticamente vedado, o que explica por que o corpo da menina estava tão bem conservado.

(dr) Garden Of Innocence

O caixão de chumbo e bronze foi encontrado durante reforma de casa no distrito de Richmond

O caixão de chumbo e bronze foi encontrado durante reforma de casa no distrito de Richmond

Através da superfície do vidro, era possível observar no interior do caixão, com um forte cheiro a lavanda, uma menina loira com um vestido branco feito à mão, decorado com laços, com o cabelo adornado com uma rosa e folhas de eucaliptos nas laterais. Parece ter sido enterrada com grande cuidado e amor.

Sem saber o que fazer, os operários da obra de restauro chamaram a proprietária da casa, Ericka Karner, que se encontrava fora da Califórnia com o marido e os filhos.

“Em primeiro lugar, fiquei chocada, obviamente, ao saber que havia o caixão de uma menina por baixo da casa”, disse Karner ao Los Angeles Times, “mas, passado o susto, não fiquei muito surpreendida, porque conhecia a história da região“.

A área a que Karner se refere é o distrito de Richmond, em San Francisco, onde no final do século 19 havia vários cemitérios. Com a expansão da cidade, as autoridades aprovaram uma série de leis que regulamentavam a construção de residências, em consequência das quais os mortos tiveram de ser transferidos dos locais onde estavam enterrados.

O antigo cemitério de Odd Fellows ficava no local que mais tarde seria a casa de Ericka Karner. O cemitério foi fechado no final do século 19 e todos os corpos ali enterrados foram transferidos para valas comuns na cidade vizinha de Colma. Porém, por alguma razão a misteriosa menina com cachos loiros foi sido deixada para trás .

Ao procurar as autoridades locais, Ericka Karner foi informada de que a responsabilidade de dar destino à menina seria sua, já que o caixão tinha sido encontrado numa propriedade sua. E foi então que Karner procurou a ajuda da Garden of Innocence.

“Não conseguimos fazer este tipo de investigação com todas as crianças, mas conseguimos fazê-lo neste caso graças ao interesse e à ajuda que recebemos”, explica Reade à BBC.

Em junho de 2016, a ONG ofereceu a Miranda uma nova lápide no cemitério de Greenland Memorial Park em Colma, na Califórnia. O mistério comoveu tanto a cidade de San Francisco, que cerca de 140 pessoas compareceram à cerimónia.

Na lápide foi gravada a frase “Se não houve luto, ninguém se lembrará“, lema da ONG. E agora, a verdadeira identidade de Miranda Eve foi finalmente descoberta.

(dr) Garden Of Innocence

A ONG fez uma nova lápide para a menina, com a frase “Se não houve luto, ninguém se lembrará”

A ONG fez uma nova lápide para a menina, com a frase “Se não houve luto, ninguém se lembrará”

A primeira fase da investigação foi identificar em que parte do antigo cemitério estaria a casa da família Karner. A seguir, começou a busca de possíveis familiares da menina que tivessem sido enterrados perto dela.

O passo seguinte foi investigar as histórias desses familiares para encontrar os seus descendentes vivos, para fazer então exames de DNA – a última fase do processo.

Após diversas análises comparativas de DNA, a Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, descobriu que havia uma coincidência clara entre as amostras da menina e as de um seu possível parente vivo – Peter Cook, que seria seu sobrinho-neto. E essa clara correspondência identificava a menina como Edith Howard Cook.

“Quando começámos, não sabíamos nada sobre a menina, e o trabalho de investigação não foi fácil, mas era um desafio pessoal para todos”, conta Reade. Mas, 145 anos mais tarde, Edith descansa finalmente em paz naquela que é agora a sua derradeira habitação.

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