“Não me lembro de ter falado com o engenheiro Sócrates sobre a CGD”, disse o antigo administrador da Caixa Geral de Depósitos, Armando Vara, durante a sua audição na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à recapitalização e gestão do banco público, assumindo que é “estranho” não se recordar.
O ex-ministro revelou aos deputados que foi convidado para a administração da CGD pelo então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos. “Disse-me que gostava que integrasse as mudanças que ele queria implementar na CGD”, afirmou Vara durante a sua audição na CPI.
Quando foi questionado pelo deputado do CDS-PP João Almeida sobre se falou com José Sócrates sobre esse convite, Vara garantiu que nunca falou com o ex-primeiro-ministro.
“Nunca falei com ele sobre esta matéria”, começou por sublinhar.
Mas depois da insistência do deputado do PSD Hugo Soares sobre o assunto, o ex-administrador da CGD alegou a falta de memória.
“Não me lembro de ter falado, por muito estranho que pareça”, notou. “Se tivesse falado, lembrar-me-ia”, acrescentou depois.
“Não se lembra, mas não nega que tenha falado”, resumiu o deputado do PSD. “Ninguém acredita que o senhor não se lembra se falou com o engenheiro Sócrates sobre a CGD”, concluiu Hugo Soares.
PSD quer Ministério Público a averiguar
Depois destas declarações de Armando Vara, “o PSD solicita que seja extraída certidão das várias respostas” para ser “remetida ao Ministério Público”, conforme sublinhou Hugo Soares, após a troca de palavras com o antigo administrador da CGD.
“Não pode andar a brincar com isto”, referiu ainda o deputado social-democrata, conforme cita a TSF, evidenciando as contradições nas respostas de Armando Vara.
Vara diz que CGD ainda vai lucrar com Vale do Lobo
Confrontado com alguns dos empréstimos ruinosos feitos pela CGD, durante a sua administração, nomeadamente o caso do empreendimento turístico de Vale do Lobo, Vara disse na CPI que está “seguro” de que o banco “não perderá dinheiro”.
“Os activos imobiliários, tal como desvalorizaram, agora estão a valorizar”, atestou o ex-ministro, sublinhando que, mesmo quando “as condições eram muito difíceis”, o resort “teve condições para pagar 100 milhões de euros”.
“Vai ser vendido, no mínimo, pelo valor que a CGD lá colocou, mas atrevo-me a pensar que vai ser vendido acima desse valor“, concluiu.
Sobre a entrada no negócio, Vara referiu que foi uma decisão unânime de “todos os órgãos da CGD”.
Vara é suspeito de ter recebido contrapartidas financeiras para facilitar o empréstimo da CGD, de 200 milhões de euros, ao empreendimento turístico. Este é um dos vários créditos problemáticos concedidos sem garantias que fizeram disparar as imparidades do banco público e que estão a ser investigados pelo Ministério Público.
ZAP // Lusa