A retirada de civis e de rebeldes de Aleppo, prevista para esta quarta-feira, foi suspensa depois de os violentos combates terem recomeçado na cidade. Alguns sírios começaram a despedir-se nas redes sociais, lançando os últimos apelos à comunidade internacional.
De acordo com o testemunho de um jornalista da France Presse no local, um tanque do regime sírio disparou intensamente contra a zona ainda controlada pelos rebeldes e existem vários civis feridos.
A Rússia, país aliado do presidente sírio, Bashar al-Assad, acusou os rebeldes de terem retomado as hostilidades, enquanto o Estado aliado da oposição, a Turquia, culpou as tropas do regime e os seus aliados.
Os violentos combates voltaram esta manhã a abalar a cidade síria, precisamente no dia em que estava prevista a retirada de milhares de civis e de rebeldes do local, depois de ter sido alcançado um acordo na terça-feira.
No entanto, após uma pausa de várias horas, recomeçaram os bombardeamentos contra esses quarteirões, confirmaram os correspondentes da AFP e o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
“Aleppo está numa situação de urgência absoluta: cerca de 100 mil pessoas estão ainda presas num território de cinco quilómetros quadrados”, disse à AFP a presidente dos Médicos do Munde, Françoise Sivignon, pedindo a retirada dos civis daquele “inferno”.
As operações de retirada deveriam ter começado às 05h00 locais (03h00 em Lisboa) e os autocarros que esperavam pelos civis e rebeldes já regressaram entretanto às suas bases.
O OSDH diz que as autoridades sírias estão a impedir a aplicação do pacto entre a Rússia e a Turquia para a retirada, por não terem sido consultadas, enquanto os opositores acusam o Irão, porque quer incluir no acordo algum ponto sobre os povos de maioria chiita de Fua e Kefraya.
Horas antes, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu de emergência para discutir a situação em Aleppo, depois dos relatos de que as forças que apoiam o regime tinham executado pelo menos 82 civis, incluindo 11 mulheres e 13 crianças.
Dos 275 mil civis que se estimava viverem em Aleppo, quase 130 mil fugiram nos últimos dias e centenas já morreram, vítimas dos bombardeamentos e das execuções.
“Adeus”
Através das redes sociais, sírios que ainda se encontram encurralados em Aleppo começaram a despedir-se, num claro apelo à comunidade internacional.
Por exemplo, Bana Alabed, a menina síria que ficou conhecida por relatar a guerra no Twitter, tem feito vários posts nos últimos dias.
“Estou muito triste por ver que ninguém neste mundo nos ajuda, ninguém nos tira daqui, a mim ou à minha filha. Adeus”, escreveu a mãe de Bana num dos tweets.
Rami Zien, um jornalista e ativista baseado na cidade síria, também tem feito vários relatos através da rede social.
“Acho que isto é um adeus. Obrigado a todos os que resistiram e pagaram por nós. Mas o fim está a chegar e faltam poucas horas para que nos matem”.
Mr. Alhamdo, um professor que também se mantém na cidade, tem feito vários apelos para que façam alguma coisa pelos civis.
“Salvem as pessoas de Aleppo. Salvem a minha filha e as outras crianças”, pediu num dos tweets.
ZAP / Lusa / Hypeness