Cientistas da Universidade de Coimbra (UC) e do MIT concluíram que o consumo regular e moderado de cafeína reduz a memória do medo e permite novas abordagens terapêuticas de controlo de fobias e depressão.
Um estudo realizado por investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC e do Massachusetts Institute of Technology (MIT) revela que “o consumo regular de doses moderadas de cafeína reduz a expressão do medo, abrindo portas para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas no controlo de fobias e depressão”, afirma a UC, numa nota divulgada esta quarta-feira.
Uma das bases do medo é “a memória aversiva continuada” e, em termos de saúde pública, “o medo está associado a fobias, stress pós-traumático e depressão“, salienta a UC.
Há, assim, “grande interesse por parte da comunidade científica em manipular esta reacção emocional”, adianta a mesma nota, referindo que nos EUA, por exemplo, é mesmo “uma prioridade devido à elevada incidência de stress pós-traumático”.
Centrada na região da amígdala do cérebro – “onde as memórias do medo são codificadas” – o estudo desenvolvido por investigadores da UC e do MIT mostra que “a persistência da memória aversiva depende de uma anomalia na sinalização mediada pelos receptores A2A (actores envolvidos na comunicação do sistema nervoso central)”.
Perante esta evidência, os especialistas realizaram experiências em ratinhos, expondo-os a situações negativas em contexto sensorial e espacial.
Num segundo momento, explica a UC, os animais foram separados em dois grupos e submetidos novamente aos eventos causadores de aversão.
A um dos grupos foi administrado diariamente um análogo da cafeína que bloqueia os receptores A2A, tendo estes animais registado uma “diminuição progressiva da retenção da memória aversiva“.
Quando colocados no contexto causador do medo, os ratinhos “ajustaram o seu comportamento, ou seja, adquiriram uma adaptação positiva”, destaca Rodrigo Cunha, coordenador do estudo, citado pela UC.
Os resultados da investigação podem vir a ter um impacto clínico relevante no futuro, admite Rodrigo Cunha, salientando que “a partir daqui é possível desenhar e desenvolver fármacos para controlar fobias e traumas, evitando a evolução para a depressão, a doença com maior incidência no mundo ocidental”.
No entanto, adverte o investigador do CNC e docente da Faculdade de Medicina da UC, são ainda necessários mais estudos em humanos.
A investigação, que foi financiada pelo Departamento de Defesa dos EUA, vai ser publicada na revista científica Neuropsychopharmacology.
/ Lusa