Os primeiros representantes europeus dos neandertais, cerca de 140.000 anos antes do homem moderno, ocuparam cavernas profundas e construíram estruturas complexas com o apoio do fogo, revela um estudo divulgado esta quarta-feira.
Esta é uma descoberta que fornece uma visão sem precedentes sobre estes hominídeos.
Até agora, a prova mais antiga de que estes homens frequentavam as cavernas remontava a cerca de 38.000 anos atrás, na caverna francesa de Chauvet, em França.
Mas um estudo, publicado esta quarta-feira na revista científica Nature, trouxe novas descobertas sobre o assunto.
Segundo o estudo, a gruta de Bruniquel, perto de Toulouse, rtouxe uma descoberta inesperada: seis estruturas compostas por estalagmites, ou pedaços de estalagmites, organizadas de forma mais ou menos circular junto a restos de combustão de fogo.
Jacques Jaubert, um dos líderes do estudo e etnólogo do Centro Nacional da Pesquisa Cientifica de França, explicou que a organização da gruta não é fruto do acaso, pois há elementos fragmentados e sobrepostos para manter as estruturas em pé.
Ao todo, podem contar-se cerca de 400 estalagmites, com um peso global estimado em 2,2 toneladas, estando colocadas de forma a formar uma linha continua, estas estruturas alcançariam os 112 metros.
A equipa de investigadores batizou estes restos fragmentados e reorganizados de “speleofacts“.
Junto a estes fragmentos, o uso do fogo é visível, demonstrando não ter origem nem no passar do tempo, nem em animais.
Estes detritos de fogo, segundo a interpretação da equipa de cientistas, revelam que, “muito antes do homo-sapiens”, os primeiros neandertais sabiam utilizá-lo para circular num espaço fechado e desprovido da luz do dia.
As estruturas encontram-se a 336 metros da entrada, o que a torna “a mais antiga a essa distância”, “a mais bem conservada”, e “uma das primeiras da história da humanidade”, dado que existem outras mais antigas mas com estruturas mais fragmentadas ou contestadas pela etnologia.
Segundo os peritos, a sua própria existência é em si mesma surpreendente. O estudo destaca que é “praticamente única nos registos arqueológicos, de seja qual for o período”.
Em Bruniquel, a idade das estalagmites é muito anterior à da chegada dos homens modernos à Europa (-40.000), pelo que os seus autores seriam os primeiros homens de Neandertal.
A gruta, que estava fechada, foi descoberta em 1990 e cinco anos depois foi feita a primeira datação, utilizando o método da datação em carbono catorze, dando uma idade mínima de 47.600 anos, o limite que esta técnica permite.
A partir de 2013, novas análises baseadas nas propriedades radioativas do urânio, que medem o final do crescimento das estalagmites utilizadas, permitem chegar a uma idade média para os fragmentos de 176.500 anos, com uma margem de erro de 2100 anos.
Nessa época atravessava-se um período “glaciar, mas dentro de um episódio relativamente húmido e ameno”, revelou Dominique Genty, diretor de investigação do CNRS.
“É bastante óbvio, quando observamos estas estruturas, que não são algo natural”, diz Genty.
Estas construções circulares, dizem alguns cientistas, não teriam sido construídas por motivos ambientais, nem de alimentação, mas sim para criar um local de culto e de celebração.
Mas na realidade, dizem os autores do estudo agora publicado, é que ninguém sabe porque razão os primeiros neandertais construíam as suas cavernas subterrâneas.
ZAP / Lusa